Marte é o planeta mais estudado pela comunidade de astrônomos. Além de seu célebre tom avermelhado e a proximidade com a Terra, o astro tem características que chamam a atenção daqueles que buscam pela vida extraterrestre, e recentemente, novas análises reiteraram que nosso “vizinho” já teve um fator crucial para abrigar vida: água líquida.
Um novo estudo publicado na revista Science em 29 de junho observou encostas íngremes de Marte. Sua geologia apresenta voçorocas — isto é, crateras que se formam por erosão — com morfologias que podem ter sido formadas por um líquido. Os cientistas acreditam que esse fenômeno tenha ocorrido em função de córregos de água.
O clima atual do planeta vermelho não é convidativo para a existência de água em estado líquido — além da média de -60 ºC, no inverno, a temperatura do astro pode chegar a -125 ºC. Contudo, cientistas da Universidade Brown, Caltech, NASA e Universidade da Califórnia acreditam que a água teria fluido no planeta para gerar as voçorocas.
O único cenário em que essa teoria é possível é a era em que Marte estava “inclinado”. Há cerca de milhões de anos, o planeta apresentava uma inclinação de 35 graus (atualmente, a inclinação de Marte é de aproximadamente 24 graus), o que levou suas calotas polares a derreterem parcialmente, elevando a pressão atmosférica.
“Sabemos, por muitas pesquisas, que no início da história de Marte, havia água corrente na superfície com redes de vales e lagos”, disse o professor Jim Head, da Universidade Brown. “Mas há cerca de 3 bilhões de anos, toda essa água líquida se perdeu, e Marte se tornou o que chamamos de um deserto hiperárido ou polar.”
Para entender como a água líquida pode ter influenciado na formação das características acidentadas das fendas, Head e outros cientistas utilizaram um modelo de circulação global em 3D para simular o clima de Marte em sua época com inclinação de 35 graus.
Eles descobriram que, com essa obliquidade, os locais das voçorocas atuais chegaram a pressões que superam 612 pascals, e as temperaturas da superfície do gelo provavelmente ultrapassaram 273 Kelvin (ponto de derretimento do gelo de água).
“A água explica a distribuição de elevação das voçorocas de maneiras que o dióxido de carbono não consegue”, disse o Dr. James Dickson, do Caltech, contrariando uma hipótese de que as erosões teriam sido causadas pelo mesmo material da fina atmosfera marciana.
Segundo o especialista, isso indica que Marte abrigou água líquida em volume suficiente para causar erosões há poucos milhões de anos, o que é muito recente na escala de sua história geológica. Com o estudo, os cientistas podem ter uma nova visão sobre como o planeta vermelho “perdeu” seus hipotéticos corpos d’água.