Sintomas psicóticos associados ao uso de substâncias psicoativas

Inúmeras substâncias psicoativas podem induzir sintomas psicóticos transitórios durante a intoxicação aguda ou abstinência, bem como desencadear uma síndrome semelhante a um transtorno psicótico primário. Muitas vezes pacientes com sintomas psicóticos com instalação aguda costumam buscar prontos atendimentos clínicos, tornando o conhecimento das substâncias que estão associadas a sintomas psicóticos necessário a todos os médicos.  

Os transtornos psicóticos induzidos por substância ou medicamento precisam de uma apresentação clínica menos proeminente que os transtornos psicóticos primários (ex.: esquizofrenia ou transtorno esquizofreniforme), bastando a ocorrência de delírios ou alucinações que tenham ocorrido durante ou logo após intoxicação ou abstinência da substância ou medicamento sabidamente capaz de induzir sintomas psicóticos.  

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Sintomas psicóticos

O início e curso dos sintomas são utilizados para diferenciar transtornos psicóticos induzidos por substâncias dos transtornos psicóticos primários. Apesar de surgirem durante ou logo após a exposição a substâncias, os sintomas podem persistir por semanas ou enquanto durar o uso da substância.

O diagnóstico do quadro nem sempre é simples, uma vez que problemas com uso de substâncias não são infrequentes em pacientes com transtornos psicóticos primários. A persistência de sintomas por mais de um mês após a interrupção do uso deve chamar atenção para quadros psicóticos primários e, muitas vezes, é essa observação prolongada após a abstinência que permite o diagnóstico correto. 

Características atípicas 

Características atípicas para um transtorno psicótico primário também devem chamar atenção, como idade de início (sintomas psicóticos em pacientes com mais de 35 anos, sem história conhecida de transtorno psicótico primário) ou curso atípicos.

Comparado com quadros psicóticos primários, os pacientes com transtorno psicótico induzido por substâncias apresentam história familiar menos consistente de transtornos psicóticos, maior grau de insight, menos sintomas negativos e mais sintomas ansiosos e depressivos associados. Apesar disso, aqueles que apresentaram sintomas psicóticos após uso de substâncias possuem maior risco de desenvolver um transtorno psicótico primário, sendo que idade mais precoce de ocorrência está associado a maior desenvolvimento de esquizofrenia.

No entanto, a relação entre o uso de substâncias e psicose é complexa e o quanto essa relação é causal permanece controverso na literatura.  

Podem ocorrer transtornos psicóticos associados à intoxicação por álcool, cannabis e canabinoides sintéticos, alucinógenos (inclusive fenciclidina), inalantes, sedativos, hipnóticos, ansiolíticos, estimulantes (anfetaminas, cocaína e seus derivados) e cetamina. Na abstinência, álcool, sedativos, hipnóticos e ansiolíticos podem causar sintomas psicóticos.  

Quadros psicóticos relacionados a abuso de substâncias 

A apresentação clínica varia muito de acordo com a substância, mas, de modo geral, o desenvolvimento de sintomas psicóticos está associado a um uso intenso por pacientes com dependência – muitas vezes os pacientes fazem uso de mais de uma substância que pode estar associada ao quadro.

A cocaína e o crack, por exemplo, podem induzir um quadro psicótico em minutos se usada em grande quantidade, enquanto o álcool ou um sedativo precisará de um uso intenso e prolongado. Anfetaminas e cocaína/crack costumam induzir delírios persecutórios, alucinações com insetos, vermes ou outros animais sob ou sobre a pele. Transtorno psicótico induzido por cannabis/canabinoides sintéticos também pode ocorrer rapidamente após o uso intenso e se apresenta com delírios persecutórios, ansiedade, labilidade emocional e despersonalização.

Quando o paciente apresenta alteração de sensopercepção, mas tem crítica sobre ela, associando ao uso da substância, o diagnóstico de transtorno psicótico induzido por substância não se aplica – nesses casos devemos só falar que se trata de uma intoxicação ou abstinência de substância com alteração de percepção. Nos casos em que há dúvida sobre o uso de substâncias, o exame toxicológico pode auxiliar na definição diagnóstica.  

Saiba mais: Efeitos colaterais de antidepressivos e antipsicóticos e prescrição personalizada

Considerações 

Não há ensaios clínicos avaliando o tratamento nos transtornos psicóticos induzidos por substâncias. Desse modo, a medicação antipsicótica normalmente é usada quando os sintomas persistem após a intoxicação aguda e para aqueles que persistem no uso da substância desencadeadora.  

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Autor

Médica pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Residência em Psiquiatria pela Universidade de São Paulo (USP). Mestranda em Psicologia Social pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IP-USP). Psiquiatra Assistente do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (HU-USP).

Referências bibliográficas:
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  • American Psychiatry Association. Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais: DSM-5-TR: texto revisado. 5.ed. Porto Alegre: Artmed, 2023. 1082 p. 

  • Beckmann D, Lowman KL, Nargiso J, McKowen J, Watt L, Yule AM. Substance-induced Psychosis in Youth.
  • Child Adolesc Psychiatr Clin N Am. 2020 Jan;29(1):131-143.  

  • Fiorentini A, Cantù F, Crisanti C, Cereda G, Oldani L, Brambilla P. Substance-Induced Psychoses: An Updated Literature Review. Front Psychiatry. 2021 Dec 23;12:694863. 

     

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