Risco residual metabólico – estamos atuando?

Risco residual cardiovascular pode ser definido como o risco residual de eventos cardiovasculares incidentes ou a progressão de doença cardiovascular estabelecida em pacientes tratados de acordo com as evidências científicas disponíveis, incluindo o risco de fatores de risco já estabelecidos como dislipidemias, hipertensão arterial, hiperglicemia, inflamação, estilo de vida não saudável e o risco relacionado aos fatores de risco emergentes ou novo.1

Estudos mostram que o uso de medicações como análogos de receptor GLP1 poderiam reduzir desfechos cardiovasculares. A diretriz europeia de manejo de doenças cardiovasculares em pacientes com diabetes, publicada em 2023,5 reforça que os análogos de receptor GLP1 com benefício cardiovascular comprovado são recomendados para todos os pacientes com diabetes mellitus tipo 2 com doença cardiovascular estabelecida, independente da hemoglobina glicada de base e independente de outras medicações para redução de glicemia, com recomendação I nível de evidência A.

Em pacientes diabéticos, o estudo LEADER,2 com a Liraglutida 1,8 mg, mostrou redução de 13% do desfecho de morte cardiovascular, infarto não fatal e acidente vascular cerebral (AVC) não fatal. O estudo SUSTAIN-6,3 com a Semaglutida 1,0 mg por via subcutânea semanal, mostrou também uma redução de 26% nesse desfecho. E o estudo PIONEER-6,7 que avaliou a formulação por via oral da semaglutida 14 mg diário, demonstrou uma tendência de benefício nesses pacientes, evidenciado segurança cardiovascular em pacientes de alto risco CV portadores de DM2.

Apesar de toda essa evidência, o estudo CAPTURE6 mostrou que somente 21,9% dos pacientes que deveriam estar utilizando essas medicações com impacto em desfechos cardiovasculares realmente estão em uso!

Um estudo que agregou novas evidências para a indicação dos análogos de receptor GLP1 em pacientes com doença cardiovascular foi o estudo SELECT, que foi uma das maiores novidades apresentadas no congresso da American Heart Association. Avaliação agora do uso de Semaglutida 2,4 mg semanal em pacientes não diabéticos. Conseguiríamos o mesmo benefício demonstrado nos estudos citados acima?

O estudo SELECT4 avaliou 17.604 pacientes com mais de 45 anos, sem antecedente de diabetes mellitus, com IMC ≥ 27 e história de doença cardiovascular — doença arterial coronariana, história de AVC ou doença arterial periférica. Desses, 82,1% tinham doença coronariana. O desfecho primário, que era um desfecho composto de morte cardiovascular, infarto não fatal ou AVC não fatal, foi positivo! Mostrou uma redução de 20% desse desfecho! Quando avaliados os desfechos isoladamente, houve uma tendência para redução de mortalidade cardiovascular, com p 0,07, além de uma tendência de redução de infarto não fatal e de morte por qualquer causa.

Em relação à avaliação de desfechos metabólicos, o estudo SELECT4 também reforçou o impacto positivo da semaglutida 2,4 mg. Houve uma queda de 37% nos níveis séricos de PCR, sugerindo melhora do perfil inflamatório, além de perda de 9,39% do peso, redução de triglicérides em 15% e perda de 6,5 cm em média a mais da cintura abdominal.

Reforça a importância do uso dessa medicação para redução de desfechos cardiovasculares e redução do risco residual metabólico.

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Autor

Médico cardiologista formado pelo Instituto do Coração da Faculdade de Medicina da USP. É editor e fundador do site de ensino CardioPapers. Atua como cardiologista no Hospital Dr. Miguel Soeiro – Sorocaba/SP. Secretário da Sociedade de Cardiologia do Estado de São Paulo (SOCESP) regional Sorocaba.

Referências bibliográficas:
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  • 1. Hermans MP, Fruchart JC. Reducing Residual Vascular Risk in Patients with Atherogenic Dyslipidemia: Where do we go from here? Clin Lipidology. 2010;5(6):811–26. DOI: doi.org/10.2217/clp.10.65
  • 2. Marso SP, Daniels GH, Brown-Frandsen K, Kristensen P, Mann JF, Nauck MA, et al. Liraglutide and cardiovascular outcomes in type 2 diabetes. N Engl J Med 2016;375:311–322. DOI: 10.1056/NEJMoa1603827
  • 3. Marso SP, Bain SC, Consoli A, Eliaschewitz FG, Jódar E, Leiter LA, et al. Semaglutide and cardiovascular outcomes in patients with type 2 diabetes. N Engl J Med 2016;375:1834–1844. DOI: 10.1056/NEJMoa1607141
  • 4. Lincoff AM, Brown-Frandsen K, Colhoun HM et al. Semaglutide and Cardiovascular Outcomes in Obesity without Diabetes. SELECT Trial. N Eng J Med 2003;November 11. DOI: 10.1056/NEJMoa2307563.
  • 5. Nikolaus Marx, Massimo Federici, Katharina Schütt, Dirk Müller-Wieland, Ramzi A. Ajjan et al. 2023 ESC Guidelines for the management of cardiovascular disease in patients with diabetes. European Heart Journal (2023) 00, 1–98. DOI: 10.1093/eurheartj/ehad192.
  • 6. Mosenzon O, Alguwaihes A, Arenas Leon J.L., et al. CAPTURE: a cross-sectional study of the contemporary (2019) prevalence of cardiovascular disease in adults with type 2 diabetes across 13 countries. Abstract 158. Presented at the 56th Annual Meeting of the European Association of the Study of Diabetes, Macrovascular complications and beyond, 10:15 CEST on 24 September 2020. DOI: 10.1186/s12933-021-01344-0
  • 7. Husain M, Birkenfeld AL, Donsmark M, Dungan K, Eliaschewitz FG, Franco DR, et al. Oral semaglutide and cardiovascular outcomes in patients with type 2 diabetes. N Engl J Med 2019;381:841–851. DOI: 10.1056/NEJMoa1901118.


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