Os testes laboratoriais são utilizados em uma ampla gama de finalidades clínicas, como na prevenção, diagnóstico, acompanhamento e o prognóstico de doenças. Dito isso, a importância dos testes de laboratório para uma boa prática médica é inegável e, quando bem indicados e interpretados, cumprem um papel decisivo para um adequado desfecho clínico.
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A capacidade de acerto de um determinado exame laboratorial, utilizado para alguma finalidade específica, ajuda a definir se esse teste é útil do ponto de vista clínico ao que se propõe. De maneira geral, seu desempenho é confrontado com um teste padrão-ouro (ex.: outro exame laboratorial, de anatomia patológica ou de imagem) e, dos resultados advindos dessa comparação, as medidas de acurácia daquele teste são determinadas.
Uma maneira tradicional e didática para exemplificar as medidas de acurácia se dá através de um modelo de tabela, como o demonstrado a seguir:
Condição do paciente
Resultado do teste |
Doentes | Não doentes | Total |
Positivo | a | b | a + b |
Negativo | c | d | c + d |
Total | a + c | b + d | a+b+c+d (N) |
No qual:
- a = verdadeiro positivo (VP);
- b = falso positivo (FP);
- c = falso negativo (FN);
- d = verdadeiro negativo (VN);
- N = total de pacientes.
São sete os principais parâmetros, com resultados numéricos, utilizados na prática médica para se avaliar o desempenho dos exames laboratoriais, quais sejam: acurácia, sensibilidade, especificidade, valor preditivo negativo (VPN), valor preditivo positivo (VPP), razão de verossimilhança negativa (RV-) e razão de verossimilhança positiva (RV+).
1.Acurácia: pode ser determinada como a proporção correta dos resultados (positivos e negativos) de um teste para uma certa condição clínica. Utilizando a tabela, a acurácia pode ser calculada da seguinte maneira: (a+d)/N ou (VP+VN)/N;
2.Sensibilidade: é definida como a capacidade de um teste em detectar os doentes, assim dizendo, oferecer um resultado positivo quando a doença está presente. Dessa forma, testes com alta sensibilidade possuem poucos falsos negativos, sendo então utilizados principalmente para triagem. Ela é representada pela fórmula: a/(a+c) ou VP/(VP+FN).
3.Especificidade: é a capacidade do exame em fornecer um resultado negativo quando o paciente é sadio (sem a doença). Devido a essa característica, testes com elevada especificidade apresentam pequenas proporções de resultados falso negativos e, por isso, são muito utilizados como testes confirmatórios. Pode ser assim calculada: d/(b+d) ou VN/(FP+VN).
4.Valor preditivo negativo (VPN): é a probabilidade da ausência da doença quando um teste é negativo. Ele é calculado da seguinte forma: d/(c+d) ou VN/(FN+VN).
5.Valor preditivo positivo (VPP): pode ser definida como a probabilidade da presença da doença quando um teste tem resultado positivo. Ele é representado pela fórmula: a/(a+b) ou VP/(VP+FP);
6.Razão de verossimilhança negativa (RV-): é a proporção de indivíduos doentes que apresentaram um resultado negativo em relação aos não doentes (sadios) que tiveram um resultado negativo. Dessa forma, quanto menor for a RV-, maior é a probabilidade de que um resultado negativo seja de um não doente (sadio). Ela pode ser assim calculada: 1-sensibilidade/especificidade.
7.Razão de verossimilhança positiva (RV+): pode ser definida como a proporção de pacientes doentes com resultado positivo em relação aos não doentes (sadios) que apresentaram resultado positivo. Ou seja, quanto mais elevada for a RV+, maior é a probabilidade de que um teste positivo seja de um indivíduo doente. Ela é representada pela fórmula: sensibilidade/1-especificidade.
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Conclusão
Para uma adequada compreensão, interpretação e correlação clínica de um resultado de exame laboratorial, se faz necessário o conhecimento básico das medidas de acurácia mais importantes, bem como o desempenho analítico daquele exame/metodologia para determinada finalidade.
Entretanto, muitas vezes, as informações mais detalhadas desses parâmetros estão presentes apenas nas bulas dos kits diagnósticos e em publicações específicas. Além disso, algumas medidas de acurácia podem variar de acordo com a prevalência, probabilidades pré e pós-teste, pontos de corte (“cut off”) estabelecidos, por exemplo.
Dessa maneira, todas essas particularidades reforçam ainda mais a importância de uma relação próxima e permanente entre os médicos assistentes e a equipe do laboratório clínico.
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Autor
Graduação em Medicina pela Universidade Gama Filho (UGF) • Residência Médica em Patologia Clínica/Medicina Laboratorial pela Universidade Federal Fluminense (UFF) • Membro titular da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) • Pós-Graduado em Medicina do Trabalho pela Faculdade Souza Marques (FTESM) • Médico Patologista Clínico do Laboratório Morales • Médico Patologista Clínico do Laboratório Central do Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP/UFF) • Médico do corpo clínico do Instituto Estadual de Doenças do Tórax Ary Parreiras (IETAP)