No estudo observacional multicêntrico denominado UltraMan foram analisados os seguintes parâmetros ultrassonográficos: cardíaco, pulmonar, diafragmático e exame da veia cava inferior, contabilizando 725 exames realizados por 111 operadores.
Em um primeiro momento, os médicos foram orientados a entrevistar e examinar os pacientes, estabelecendo um diagnóstico de trabalho inicial. Na sequência, foi realizado o POCUS, com objetivo de avaliar se o método alterava a percepção diagnóstica inicial e se impactava no plano terapêutico.
A mudança no diagnóstico de trabalho alcançou 48%, com mudanças de condutas em 39% dos casos, com a maioria das mudanças de conduta sendo implementada nas primeiras 8 horas, com destaque especial para os achados da ultrassonografia pulmonar.
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Ultrassonografia pulmonar e a predição de ARDS
Outro estudo prospectivo observacional e multicêntrico foi desenvolvido e validado, o escore LUS para o diagnóstico de síndrome do desconforto respiratório agudo (ARDS), com a hipótese de superioridade do método sobre a radiografia de tórax.
Foram avaliados 453 pacientes em ventilação mecânica incluídos nas primeiras 48 horas de admissão no CTI e divididos entre uma coorte derivada (N = 324) e da validação (N = 129).
O escore de aeração pulmonar e as análises de gasometria arterial foram obtidos nos dias 1 e 2. A partir de uma análise de regressão logística, foi desenvolvido o escore LUS-ARDS em pacientes com ARDS confirmada (16%) e descartada (54%).
A acurácia diagnóstica foi boa, com área sob a curva de 0,83 (IC 95%: 0,77 a 0,88), sem diferença em relação ao subgrupo de 229 pacientes que foram submetidos também à tomografia de tórax, considerada o padrão-ouro.
Já há evidências para o emprego de inteligência artificial (IA) na avaliação de parâmetros hemodinâmicos ecocardiográficos?
Um estudo unicêntrico comparou as medidas da veia cava inferior, FEVE e VTI da via de saída do VE realizadas por IA com as realizadas por operadores humanos experientes.
A conclusão foi de boa correlação para todos os parâmetros, especialmente o VTI, desde que a qualidade da imagem fosse adequada.
Qual a capacidade discriminativa do POCUS na identificação das síndromes intersticiais em CTI?
As síndromes intersticiais podem ser indicativas de internação em CTI por ocasião da instalação ou agravamento de insuficiência respiratória, sendo o seu principal diagnóstico diferencial o edema pulmonar cardiogênico (EPC).
Um estudo observacional e multicêntrico avaliou 110 pacientes na coorte derivativa e 122 na coorte de validação. Foram demonstradas evidências convincentes de que o LUS pode ser útil em identificar a síndrome intersticial e distingui-la do EPC por meio da avaliação de quatro zonas pulmonares.
Os parâmetros incluem o número de linhas B ou sua ausência e as características morfológicas da linha pleural, especialmente o espessamento, fragmentação ou irregularidade.
A presença do padrão subpleural B foi o sinal ultrassonográfico mais acurado para diagnosticar as síndromes intersticiais, enquanto as anormalidades morfológicas bilaterais da linha pleural foram discriminativas das síndromes intersticiais cardiogênicas com especificidade de 100% e ótima concordância entre observadores, embora a sensibilidade tenha sido limitada.
O POCUS é capaz de predizer o risco de broncoaspiração entre os pacientes submetidos à sequência rápida de intubação orotraqueal (IOT)?
A IOT de emergência é um procedimento de alto risco para a broncoaspiração de conteúdo gástrico, gerando morbimortalidade significativa.
O tempo de esvaziamento gástrico está naturalmente alentecido entre os doentes críticos e os usuários de agonistas do GLP-1, por exemplo. Dessa forma, o tempo em jejum não necessariamente se correlaciona com a definição de “estômago vazio”.
A avaliação ultrassonográfica do antro gástrico, incluindo os seus diâmetros anteroposterior, craniocaudal, área seccional transversal e volume gástrico calculado pela fórmula de Perlas são úteis em predizer o risco de aspiração.
Um volume gástrico estimado em mais do que 111 mL se associa ao risco de aspiração com sensibilidade de 100%, especificidade de 92% e acurácia diagnóstica de 93%.
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Fórmula de Perlas para a estimativa do volume gástrico
- Volume (mL) = 27 + 14,6 x ACSA em DLD (cm²) – 1,28 x idade (anos)
- ACSA: área seccional do antro gástrico;
- ACSA = (Diâmetro AP x diâmetro CC do antro) x π/4;
- DLD: decúbito lateral direito;
- AP: anteroposterior;
- CC: craniocaudal.
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Autor
Graduação em Medicina em 2013 pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF). Residência em Clínica Médica (2016) e Gastroenterologia (2018) pelo Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (HC-UFMG). Residência em Endoscopia digestiva pelo HU-UFJF (2019). Preceptor do Serviço de Medicina Interna do HU-UFJF (2019).
- Millington SJ, Narasimhan M, Mayo PH, Vieillard-Baron A. Ten Influential Point-of-Care Ultrasound Papers: 2023 in Review. J Intensive Care Med. 2024 Feb 19:8850666241233556. DOI: 10.1177/08850666241233556. Epub ahead of print. PMID: 38374613.