A esteato-hepatite não alcoólica (NASH) é uma condição com alta prevalência, associada à esteatose, inflamação e lesão celular dos hepatócitos, com ou sem fibrose. Não há tratamento farmacológico especificamente aprovado para essa condição.
A pegozafermina é uma droga análoga ao fator de crescimento de fibroblastos 21 (FGF 21) que vem sendo estudada para tratamento de NASH e hipertrigliceridemia grave, visto que tem potencial de regular o metabolismo lipídico e glicêmico e o gasto energético.
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O estudo ENLIVEN foi recentemente publicado no NEJM, com o objetivo de avaliar a eficácia e segurança da pegozafermina em pacientes com NASH não cirrótica.
Métodos
Trata-se de ensaio clínico randomizado, duplo cego, multicêntrico (61 centros nos EUA) em fase 2 b, com objetivo de avaliar a eficácia e a segurança da pegozafermina, em um período de 24 semanas.
Critérios de inclusão:
- NASH confirmada por biópsia;
- Fibrose estágios F2 ou F3.
Grupos avaliados:
- Intervenção: pegozafermina subcutânea 15 mg ou 30 mg por semana ou 44 mg a cada duas semanas;
- Controle: Placebo semanalmente ou a cada duas semanas.
Desfecho primário:
- Melhora ≥ 1 estágio na fibrose hepática, sem piora da NASH em 24 semanas;
- Resolução da NASH, sem piora da fibrose em 24 semanas.
Resultados
Dos 222 pacientes randomizados, 27 foram excluídos após avaliação histológica criteriosa e três foram excluídos pois não receberam intervenção ou placebo. Dessa forma, 192 pacientes foram incluídos inicialmente, sendo a maioria branca.
Melhora da fibrose foi de 7% no grupo placebo, 22% no grupo pegozafermina de 15 mg (IC 95%, -9 a 38), 26% no grupo de pegozafermina de 30 mg (IC de 95%, 5 a 32; P = 0,009) e 27% no grupo de pegozafermina de 44 mg (IC 95 %, 5 a 35; P = 0,008).
Resolução da NASH foi de 2% no grupo placebo, 37% no grupo pegozafermina de 15 mg (IC 95%, 10 a 59), 23% no grupo de pegozafermina de 30 mg (IC de 95%, 9 a 33), e 26% no grupo de pegozafermina de 44 mg (IC de 95%, 10 a 37).
Os principais eventos adversos relatados foram gastrointestinais, incluindo náuseas e diarreia e cutâneos (eritema no local da injeção).
Um paciente que recebeu dose única de pegozafermina 44 mg apresentou pancreatite aguda não complicada, com lama biliar em exames de imagem. Esse evento foi considerado relacionado à terapia pelo investigador.
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Mensagens práticas
Apesar das limitações (curta duração e baixa diversidade étnica), trata-se de um estudo fase 2 b que demonstra melhorias na fibrose em pacientes com NASH confirmada por biópsia utilizando pegozafermina semanal ou a cada duas semanas durante 24 semanas. Dessa forma, auxilia a seleção e a condução de estudos futuros de fase 3 com maior população e duração, sendo um tratamento promissor para NASH.
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Autor
Graduada em Medicina pela Universidade Federal Fluminense ⦁ Residência médica em Clínica Médica pelo Hospital Universitário Antônio Pedro (UFF) ⦁ Residente em Gastroenterologia no Hospital Universitário Cassiano Antônio de Moraes (UFES) ⦁ Instagram: @dra.fernandaazevedo
- Loomba R, Sanyal AJ, Kowdley KV, Bhatt DL, Alkhouri N, Frias JP, Bedossa P, Harrison SA, Lazas D, Barish R, Gottwald MD, Feng S, Agollah GD, Hartsfield CL, Mansbach H, Margalit M, Abdelmalek MF. Randomized, Controlled Trial of the FGF21 Analogue Pegozafermin in NASH. N Engl J Med. 2023 Sep 14;389(11):998-1008. DOI: 10.1056/NEJMoa2304286
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