O leite humano é uma matriz alimentar complexa, com numerosos componentes que influenciam a composição da microbiota infantil desde os primeiros meses de vida. As evidências sugerem que a colonização intestinal bacteriana precoce tem consequências a longo prazo na homeostase digestiva e imunológica do hospedeiro. Esse tema foi amplamente discutido no XXIV Congresso Latinoamericano de Gastroenterologia, Hepatologia e Nutrição Pediátrica (LASPGHAN) que aconteceu no Rio de Janeiro, entre os dias 25 e 28 de outubro de 2023.
Diversas plenárias abordaram a importância do aleitamento materno para a composição da microbiota, destacando-se a sessão apresentada pelo Dr. Ener Cagri Dinleyici, infectologista pediátrico e membro da Associação Mundial de Probióticos, Prebióticos, Posbióticos em Pediatria.
Embora o leite materno já tenha sido considerado estéril, o palestrante reforçou que ele contém uma composição complexa de bactérias que ajudam a estabelecer a microbiota intestinal infantil.
Os estudos evidenciam que o leite materno possui um microbioma único, incluindo bactérias benéficas, comensais e potencialmente probióticas.. Entre os gêneros isolados no leite materno, algumas espécies pertencentes a Bifidobacterium e Lactobacillus foram isoladas, com destaque para Bifidobacterium breve, Bifidobacterium bifidum, Bifidobacterium adolescentis, Lactobacillus gasseri, Lactobacillus fermentum, Lactobacillus plantarum, Lactobacillus rhamnosus e Lactobacillus salivarius.
O Dr. Ener apresentou dados do estudo TEDDY (The Environmental Determinants of Diabetes in the Young), no qual foi realizada uma análise longitudinal de amostra fecal de cerca de 903 crianças dos 3 aos 46 meses de vida. Esse estudo mostrou que a microbiota intestinal das crianças passa por fases: uma fase de desenvolvimento inicial (entre 3-14 meses), fase de transição (entre 15-30 meses) e uma fase estável (entre 31-46 meses de vida). Independente da fase de desenvolvimento da microbiota, o fator mais significativo associado à estruturação do microbioma foi o aleitamento materno, exclusivo ou parcial. A amamentação foi associada a níveis mais elevados de espécies de Bifidobacterium. A via de parto também foi significativamente associada ao microbioma durante a fase de desenvolvimento, impulsionado por níveis mais elevados de espécies de Bacteroides em bebês nascidos por via vaginal.
O pesquisador destacou a influência da alimentação materna, estado de saúde materno, idade gestacional ao nascimento, sexo da criança, localização geográfica e tipo de parto (parto vaginal versus cesariana), tipo de alimentação infantil (amamentação exclusiva, fórmula infantil, alimentação mista), tempo desde o nascimento até o contato pele a pele e uso perinatal de antibióticos como fatores importantes para o processo de aquisição e estabelecimento da microbiota infantil.
Mensagem final
- Variações no microbioma do leite podem ser atribuídas a fatores, como dieta materna, saúde materna, tipo de parto, diferenças demográficas ou ambientais;
- Nos últimos anos é crescente a compreensão sobre a composição do microbioma do leite materno;
- O pré-colostro tem sido estudado e visto como influenciador da composição da microbiota nos primeiros meses de vida;
- O aleitamento materno é o fator mais significativo associado à estruturação do microbioma infantil.
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Autor
Médico formado pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) ⦁ Residência Médica em Pediatria Geral e Puericultura pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (ISCMSP) ⦁ Especialista em Gastroenterologia Pediátrica pela Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo (ISCMSP) ⦁ Membro do Grupo Young LASPGHAN (Latinamerican Society for Pediatric Gastroenterology, Hepatology and Nutrition).