LF-LAM: teste para o diagnóstico de tuberculose ativa em PVHIV 

A tuberculose (TB) é uma doença bacteriana infecciosa de evolução crônica, causada notadamente pelo Mycobacterium tuberculosis (MTB), que acomete em especial os pulmões, sendo transmitida pelo ar através de aerossóis.   

Veja também: Gripe Aviária (IA): diagnóstico laboratorial

Em pessoas vivendo com HIV/AIDS (PVHIV) a TB é particularmente importante, sendo considerada a principal causa de óbitos por infecção definida nessa população. Devido ao comprometimento do sistema imune, o risco de desenvolver TB nesse grupo é cerca de 28 vezes maior em relação à população geral.   

As manifestações clínicas e os achados radiológicos nesse grupo podem ser atípicos e, até mesmo, o desempenho analítico dos testes diagnósticos mais comuns (ex.: baciloscopia, teste rápido molecular) são impactados negativamente. Essas particularidades levam a um atraso no diagnóstico e tratamento, impactando sobremaneira a morbimortalidade desses pacientes.   

LF-LAM

Teste de fluxo lateral para detecção de lipoarabinomanano na urina (LF-LAM)  

O antígeno lipoarabinomanano micobacteriano (LAM) é uma glicoproteína de 17,5 kDa, sendo um dos principais componentes lipossacarídicos presente na parede celular das microbactérias, que é liberado na circulação a partir de células bacterianas metabolicamente ativas ou degeneradas.    

Esse antígeno é então filtrado pelos rins e, por conseguinte, é detectado na urina. Sua presença está indiretamente relacionada à resposta imune, especialmente, mas não exclusivamente, na TB ativa em PVHIV.   

O LF-LAM é um teste imunocromatográfico qualitativo, que utiliza anticorpos policlonais que capturam moléculas do antígeno-alvo, sendo capaz de detectar o antígeno LAM em uma amostra isolada (spot) de urina.    

Ele é realizado manualmente, através da aplicação de cerca de 60 μL (microlitros) de urina em um campo indicado na tira de teste, incubado por 25 minutos em temperatura ambiente e interpretado, a olho nu, o aparecimento de determinadas bandas (linhas) decorrente das reações (a banda controle deverá ser sempre positiva para que o resultado do teste seja válido).  

A intensidade de qualquer reação visível na tira de teste é comparada com as imagens de um cartão controle fornecido pelo fabricante, contendo quatro graus de bandas de referência, e interpretado pelo profissional que está executando o teste.  

Considerações clínicas e analíticas  

Seu processo de detecção é feito utilizando uma pequena tira de teste (semelhante a um cartão) e uma amostra de urina, de modo simples, rápido, com baixo custo e sem a necessidade de uma grande infraestrutura laboratorial/equipamentos ou de profissionais altamente especializados, podendo, dessa maneira, ser realizado em locais afastados dos grandes centros.   

Devido a todas essas características, esse dispositivo traz consigo uma notória importância em termos de saúde pública em nosso país, sendo considerado um teste laboratorial remoto (TLR), do inglês point-of-care testing (POCT).  

Como a urina – material biológico utilizado pelo teste – é de fácil coleta e armazenamento, apresenta vantagens em relação ao material usual (escarro) para o diagnóstico de TB, reduzindo ainda o risco de contaminação dos profissionais da saúde na manipulação e análise laboratorial da amostra.   

Outro ponto positivo é que, mesmo em pacientes paucibacilares e nas formas extrapulmonares da doença, o antígeno LAM pode ser detectado na urina (diferentemente do que ocorre com os bacilos nas amostras de escarro). 

A sensibilidade e especificidade combinadas de LF-LAM em pacientes HIV-TB com limiares de CD4+ ≤ 100 células/mm³ é de, aproximadamente, 55,4% e 87%, respectivamente.  

Para o rastreio e diagnóstico de TB na população geral, devido à sua sensibilidade abaixo do ideal, o uso do LF-LAM não é recomendado de rotina. Entretanto, ao contrário dos métodos tradicionais, o lipoarabinomanano na urina possui uma sensibilidade aprimorada em pacientes com coinfecção HIV-TB, a qual é ainda melhor em baixas contagens de CD4+.  

O resultado do LF-LAM não deve ser considerado como teste único para a detecção de TB, podendo apresentar tanto resultados falso-positivos quanto, principalmente, falso-negativos.   

Leia mais: Quais são as principais medidas de acurácia dos exames laboratoriais?

Comentários finais  

Particularmente nas pessoas vivendo com HIV/AIDS (PVHIV), devido, dentre outros fatores, às manifestações clínicas atípicas, presença de formas paucibacilares e do comprometimento do sistema imune encontrado nesses pacientes, o diagnóstico da TB pode ser desafiador.  

Nesse contexto, o uso do LF-LAM apresenta um bom desempenho analítico e custo-efetividade, podendo ser uma alternativa complementar interessante aos testes mais comuns (ex.: baciloscopia, teste rápido molecular) para o rastreio e diagnóstico de tuberculose ativa suspeita em PVHIV, notadamente naqueles com baixas contagens de CD4+ (≤ 100 células/mm³).  

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Autor

Graduação em Medicina pela Universidade Gama Filho (UGF) • Residência Médica em Patologia Clínica/Medicina Laboratorial pela Universidade Federal Fluminense (UFF) • Membro titular da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) • Pós-Graduado em Medicina do Trabalho pela Faculdade Souza Marques (FTESM) • Responsável Técnico do Laboratório Morales (Grupo Tommasi) • Médico Patologista Clínico do Laboratório Central do Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP/UFF) • Médico do corpo clínico do Instituto Estadual de Doenças do Tórax Ary Parreiras (IETAP).

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