Nas conferências da tarde do IDWeek 2023, congresso promovido pela Infectious Diseases Society of America (IDSA), tivemos temas quentes em doenças infecciosas na população pediátrica e três grandes temas foram discutidos: imunodeprimidos, infecção de corrente sanguínea e pneumonia associada à ventilação mecânica.
Diagnóstico de doenças infecciosas em imunodeprimidos
O diagnóstico de infecção em pacientes imunodeprimidos é desafiador, pois muitas vezes eles não apresentam sinais e sintomas característicos. Daí os estudos que avaliam biomarcadores como forma de predizer infecção de uma forma acurada, reprodutível, padronizada e rápida o suficiente para impactar no desfecho clínico.
Exemplos de biomarcadores:
- Humorais (IgGs):
IgG ˂ 400 é associado à infecções respiratórias como aspergilose, por exemplo. Entretanto, não se sabe se essa diminuição seria uma causa ou simplesmente um marcador de uma desordem imunológica maior. - Sistema complemento:
Infecções bacterianas, pneumonia, infecções fúngicas são mais comuns em pacientes com baixos níveis de C3.
Também estão sendo testadas as assinaturas transcriptômicas (coleção de RNA mensageiro transcrita por uma célula ou população de células), pois um aumento da expressão celular pode ser indicativa de infecção e, pelo tipo de proteínas produzidas, até mesmo é possível diferenciar o patógeno causador.
Infecção primária de corrente sanguínea (IPCS)
Foi observado um aumento substancial no diagnóstico das IPCS durante a pandemia de Covid-19. Um estudo retrospectivo em 78 hospitais, 12 meses antes e 6 meses após a pandemia, revelou um aumento de 51%. Esse aumento foi relacionado a maior gravidade dos pacientes, exaustão da equipe, quebra das barreiras de proteção, rotatividade na equipe de saúde e desabastecimento de artigos hospitalares.
Além disso, também foi demonstrado o quanto a realização de bundles de inserção e manutenção, rounds diários e programas institucionais de vigilância são importantes para evitar esse tipo de infecção.
Pneumonia associada a ventilação mecânica (PAV)
As PAVs constituem um desafio diagnóstico, pois uma cultura positiva pode refletir colonização, e não apenas infecção, ainda que na prática clínica haja uma tendência a realizar o tratamento. A falta de protocolo indicativo de quando coletar, como coletar e como analisar esse material contribui para um provável uso excessivo de antimicrobianos.
O estudo Bright Star 2, envolvendo 14 unidades de terapia intensiva pediátricas dos EUA, mostrou que não havia um consenso de como a cultura de secreção respiratória seria coletada ou por qual profissional. Ainda mais, as indicações dessa coleta eram muito variáveis (como febre persistente e aumento de leucograma e PCR, ainda que não tenha havido sintoma respiratório associado). Tentando melhorar essa prática, um novo estudo está em andamento, com previsão para término em 2024, tentando achar um consenso sobre quando e como realizar essa análise.
Além disso, em termos de tratamento, foi apresentada uma metanálise em que não houve diferença em recorrência, mortalidade, tempo de duração de ventilação mecânica, infecção extrapulmonar e tempo de internação hospitalar entre os pacientes que realizaram tratamento curto (≤ 8 dias) versus longo (10-15 dias).
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Autor
Médica do Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas/FIOCRUZ ⦁ Mestrado em Pesquisa Clínica pelo Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas/FIOCRUZ ⦁ Infectologista pelo Instituto Nacional de Infectologia Evandro Chagas/FIOCRUZ ⦁ Graduação em Medicina pela Universidade Federal Fluminense