Estudo avalia se vacinação materna contra coqueluche é efetiva em lactentes

A coqueluche é uma doença respiratória altamente contagiosa e potencialmente grave. Apesar da redução da gravidade ter sido expressiva desde a introdução de vacinas infantis de células inteiras e acelulares, a morbilidade e a mortalidade permanecem elevadas em crianças pequenas, que representam 70 a 90% de todas as hospitalizações e óbitos atribuíveis à tosse coqueluchoide. Durante a gestação, a vacinação contra coqueluche protege contra a doença no bebê durante os primeiros seis meses de idade. No entanto, os possíveis efeitos dos anticorpos maternos na resposta dos bebês à imunização primária continuam a ser uma questão relevante.  

Recentemente, pesquisadores na Austrália conduziram um estudo muito interessante cujos objetivos foram fornecer estimativas robustas da eficácia da vacina (EV) materna contra a coqueluche na prevenção da infecção em bebês (em geral, por idade infantil e por idade gestacional na vacinação), além de investigar possíveis efeitos de embotamento da resposta imune em nível populacional, usando dados reais mundiais. Os resultados foram publicados no artigo “Maternal Pertussis Vaccination, Infant Immunization, and Risk of Pertussis”, no Pediatrics 

 Saiba mais: DTPw x DTPa: semelhanças, diferenças e estratégias de adesão vacinalt

Estudo avalia se vacinação materna contra coqueluche é efetiva em lactentes

Estudo avalia se vacinação materna contra coqueluche é efetiva em lactentes

Metodologia 

Trata-se de um estudo de coorte de base populacional (Links2HealthierBubs) de pares mãe-bebê usando ligação probabilística de registros administrativos de saúde em três jurisdições australianas: Território do Norte (NT), Queensland (QLD) e Austrália Ocidental (WA), representando um terço de todos os nascimentos australianos.  

Durante o período do estudo, a vacinação materna contra coqueluche foi recomendada durante todas as gestações entre 28 e 32 semanas de IG. Para inclusão, foram elegíveis todas as mães e seus bebês com idade gestacional (IG) ≥ 20 semanas e/ou peso ao nascer ≥ 400 g que nasceram após a introdução do programa jurisdicional australiano de vacinação materna contra coqueluche (QLD: após 1º de agosto de 2014, NT e WA: após 1º de abril de 2015). Pares mãe-bebê com registro de vacinação inferior a 14 dias antes do parto foram excluídos.  

Os bebês foram vacinados pela mãe se a mãe tivesse vacinação contra coqueluche documentada em um período igual ou superior a 14 dias antes do nascimento. Os registros de imunização jurisdicionais foram usados para identificar o recebimento das primeiras três doses infantis de vacinas contendo coqueluche. As infecções por coqueluche infantil foram identificadas usando registros de doenças notificáveis.  

Resultados 

Foram incluídos 279.418 bebês nascidos de 252.444 mães nas três jurisdições australianas mencionadas, sendo que 51,7% das gestantes receberam a vacina através de um programa de vacinação materna contra coqueluche, predominantemente entre 28 e 31 semanas de IG: 5.0% antes de 28 semanas de IG, 28.7% com 28 a 31 semanas de IG e 17.4% com 32 semanas de IG.  

A vacinação foi associada a uma diminuição global de 66% na infecção por tosse coqueluchoide infantil até seis meses de vida. A EV materna contra coqueluche diminuiu de 70,4% entre bebês  com menos de dois meses de idade para 43,3% entre bebês de sete a oito meses, não sendo significativa após os oito meses. Apesar de os pesquisadores terem observado estimativas pontuais de EV ligeiramente mais baixas para a terceira dose da vacina contra coqueluche infantil entre bebês vacinados pela mãe em comparação com bebês não vacinados (76,5% versus 92,9%, P = 0,002), não foram descritas taxas mais altas de infecção por coqueluche (taxa de risco, 0,70). 

Conclusão 

O estudo mostra que, apesar das evidências de menor eficácia da terceira dose infantil da vacina acelular contra coqueluche entre bebês vacinados pela mãe, isso não foi associado a uma maior incidência de coqueluche em comparação com bebês sem histórico de vacinação materna, indicando que a vacinação materna contra coqueluche protege os bebês da infecção durante um período de gestação, apoiando os benefícios para a saúde infantil das recomendações para administrar uma dose de reforço da vacina contra coqueluche perto em grávidas próximas a 28 semanas de IG. 

 Leia também: Efeitos da frenectomia em lactentes na amamentação: resultados de nova revisão

Comentário 

No Brasil, conforme orientações da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), a dTpa está recomendada em todas as gestações: 

  • A vacina confere proteção à gestante, evitando que ela transmita a Bordetella pertussis ao bebê recém-nascido, permitindo a transferência de anticorpos ao feto e protegendo-o nos primeiros meses de vida até que ele possa receber a vacinação; 
  • Gestantes não vacinadas na gravidez devem ser imunizadas o mais precocemente possível, no puerpério; 
  • Na falta de dTpa, pode ser feita a substituição pela dTpa-VIP, ficando à critério médico a prescrição; 
  • No Sistema Único de Saúde (SUS), está disponível a dT e a dTpa. Em clínicas privadas de vacinação, há disponibilidade da dTpa e dTpa-VIP. 

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Autor

Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra

Referências bibliográficas:
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  • REGAN, Annette et al. Maternal Pertussis Vaccination, Infant Immunization, and Risk of Pertussis [published online ahead of print, 2023 Oct 9]. Pediatrics, e2023062664, 2023. DOI: 10.1542/peds.2023-062664


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