Estudo avalia características de mortes infantis repentinas e inesperadas

O hábito de compartilhar a cama, o uso de colchões macios e a colocação do bebê em posição prona durante o sono são fatores que aumentam o risco de morte súbita inesperada e de síndrome da morte súbita infantil. Estudos revelam que, entre bebês que sobrevivem, a prática de compartilhar a cama varia de 34% a 64%, enquanto, entre os casos de morte súbita infantil, essa prática ocorre em aproximadamente metade dos casos. Com o intuito de analisar detalhadamente as características das mortes súbitas e inesperadas que acontecem em superfícies de sono compartilhadas ou não compartilhadas, pesquisadores nos Estados Unidos conduziram um estudo cujos dados foram recentemente publicados na revista Pediatrics.

Estudo avalia características de mortes infantis repentinas e inesperadas

Metodologia

Os pesquisadores utilizaram os dados provenientes do Centers for Disease Control and Prevention’s SUID Case Registry (the Registry), um sistema de vigilância de base populacional que abrange várias jurisdições americanas. Em síntese, equipes multidisciplinares de revisão de mortes infantis analisam e compilam informações sobre óbitos de diversas fontes, como certidões de óbito, relatórios de autópsias e registros médicos, e emitem recomendações preventivas com base em suas conclusões. Essas informações e recomendações de revisão são registradas em um sistema nacional de notificações, o National Fatality Review-Case Reporting System (NFR-CRS).

No estudo, foram analisadas as mortes infantis súbitas e inesperadas entre residentes de 23 jurisdições dos Estados Unidos no período de 2011 e 2020.  Foram relatadas as frequências e porcentagens de dados demográficos, do ambiente de sono e outras características por status de compartilhamento da superfície do sono. Os pesquisadores também relataram diferenças de pelo menos 5% entre bebês que dormem ou não em cama compartilhada.

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Resultados

Dos 7.595 casos de SUID, cerca de 60% dos bebês estavam compartilhando a cama no momento do óbito. Destes, a maioria estava apenas com adultos (68,2%), na cama de adultos (75,9%), e com mais de uma pessoa (51,6%). O compartilhamento da cama foi mais frequente entre bebês nascidos de gestações múltiplas do que entre aqueles nascidos de gestações únicas. Os bebês que compartilhavam a cama geralmente estavam deitados de costas (41,1%), enquanto os que não compartilhavam estavam mais frequentemente de bruços (49,5%) em seus berços (51,8%). Camas macias no ambiente de sono eram comuns tanto entre bebês que compartilhavam (68,3%) quanto entre os que não compartilhavam (73,8%).

Além do compartilhamento da cama, havia mais fatores de risco para sono inseguro presentes entre os bebês que compartilhavam. Por exemplo, 31,3% dos bebês que compartilhavam tinham todos os três fatores de sono inseguro (roupas de cama ou objetos macios e/ou soltos; não estavam em um berço; estavam em posição prona ou lateral), em comparação com 21,0% dos bebês que não estavam em cama compartilhada.

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Em geral, em comparação com bebês que não compartilhavam a cama, aqueles que compartilhavam eram mais frequentemente bebês de até 3 meses de idade, de etnia negra não hispânica, tinham seguro público, estavam deitados de costas, estavam em uma cama ou sofá de adultos, apresentavam mais fatores de risco para sono inseguro, foram expostos ao tabagismo materno durante a gravidez, e estavam sob supervisão de um dos pais ou de alguém sob o efeito de drogas ou álcool.

A maioria dos casos de mortes infantis apresentava múltiplos fatores de risco para sono inseguro, totalizando pelo menos 76% de todos os casos analisados.

Conclusão

As características dos bebês que compartilham e não compartilham a superfície entre os casos de morte súbita e inesperada infantil variam de acordo com a idade no momento do óbito, raça e etnia, tipo de seguro infantil e presença de fatores de sono inseguro. No entanto, a maioria tinha múltiplos fatores de sono inseguro presentes, independentemente do status de compartilhamento. O estudo destaca que a forma mais segura para um bebê dormir é em decúbito dorsal, em uma superfície de dormir não compartilhada, em um berço e sem roupa de cama macia.

Comentários sobre mortes súbitas infantis

A prática da cama compartilhada tem sido objeto de debate e estudo no contexto da morte súbita inesperada infantil e da síndrome da morte súbita infantil. Embora haja opiniões variadas sobre os benefícios e os riscos associados ao compartilhamento da cama, muitos profissionais de saúde alertam sobre os potenciais perigos dessa prática, especialmente quando não são seguidas as precauções de segurança.

Estudos epidemiológicos demonstraram uma associação entre o compartilhamento da cama e um aumento do risco destas fatalidades. Entre os fatores de risco associados ao compartilhamento da cama estão a possibilidade de sufocamento, asfixia acidental e superaquecimento do bebê, especialmente se um dos pais estiver dormindo profundamente ou se estiverem presentes travesseiros macios, cobertores ou outros itens na cama que possam representar riscos de estrangulamento ou sufocação.

Os defensores da cama compartilhada argumentam que essa prática pode facilitar a amamentação noturna, promover o vínculo entre pais e bebê e até mesmo melhorar o sono do bebê. No entanto, a minha orientação como pediatra e seguindo recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria e da Academia Americana de Pediatria, os pais devem tomar precauções estritas para reduzir os riscos, como evitar o compartilhamento da cama (especialmente se um dos pais fuma, bebe ou usa drogas), usar um colchão firme e plano, manter a roupa de cama leve e ajustada, e evitar a superlotação na cama (gosto de dizer que, no berço, tem que ter apenas o bebê. E pronto).

É importante que os pais estejam cientes dos potenciais riscos associados ao compartilhamento da cama e tomem medidas para garantir um ambiente de sono seguro para seus bebês, independentemente de optarem por essa prática ou não. Cabe ao pediatra passar minuciosamente essas informações.

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Autor

Graduada em Medicina pela Faculdade de Medicina de Valença ⦁ Residência médica em Pediatria pelo Hospital Federal Cardoso Fontes ⦁ Residência médica em Medicina Intensiva Pediátrica pelo Hospital dos Servidores do Estado do Rio de Janeiro. Mestra em Saúde Materno-Infantil (UFF) ⦁ Doutora em Medicina (UERJ) ⦁ Aperfeiçoamento em neurointensivismo (IDOR) ⦁ Médica da Unidade de Terapia Intensiva Pediátrica (UTIP) do Hospital Universitário Pedro Ernesto (HUPE) da UERJ ⦁ Professora adjunta de pediatria do curso de Medicina da Fundação Técnico-Educacional Souza Marques ⦁ Membro da Rede Brasileira de Pesquisa em Pediatria do IDOR no Rio de Janeiro ⦁ Acompanhou as UTI Pediátrica e Cardíaca do Hospital for Sick Children (Sick Kids) em Toronto, Canadá, supervisionada pelo Dr. Peter Cox ⦁ Membro da Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) e da Associação de Medicina Intensiva Brasileira (AMIB) ⦁ Membro do comitê de sedação, analgesia e delirium da AMIB e da Sociedade Latino-Americana de Cuidados Intensivos Pediátricos (SLACIP) ⦁ Membro da diretoria da American Delirium Society (ADS) ⦁ Coordenadora e cofundadora do Latin American Delirium Special Interest Group (LADIG) ⦁ Membro de apoio da Society for Pediatric Sedation (SPS) ⦁ Consultora de sono infantil e de amamentação ⦁ Instagram: @draroberta_pediatra

Referências bibliográficas:
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  • Erck Lambert A, et al. Characteristics of Sudden Unexpected Infant Deaths on Shared and Nonshared Sleep Surfaces. Pediatrics. Published online February 20, 2024


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