DTPw x DTPa: semelhanças, diferenças e estratégias de adesão vacinal

A proteção contra doenças desde os primeiros meses de vida é fundamental e, por isso, existem diferentes vacinas disponíveis nos calendários público e privado. No caso da prevenção da coqueluche, por exemplo, existem 2 tipos diferentes de vacinas: a vacina de células inteiras, denominada como Pw e a vacina acelular, denominada como Pa. Ambas estão presentes em combinação com DT, ou combinadas a outros antígenos, compondo as vacinas pentavalente ou hexavalente.1-5

Importante destacar que a vacina pentavalente de células inteiras (para difteria, tétano, coqueluche, Hib e hepatite B) tem um papel importante na redução da morbidade e mortalidade por coqueluche, e está disponível no Programa Nacional de Imunizações para crianças a partir de 2 meses de idade. Em comparação às vacinas acelulares, as vacinas de células inteiras demonstram uma maior reatogenicidade.5,6

Um estudo publicado em 2014 descreveu o impacto de algumas mudanças do programa nacional de imunizações da Itália sobre a evolução epidemiológica da coqueluche. Em 1961, foi introduzida no calendário vacinal italiano a vacina de células inteiras. Apesar da baixa cobertura vacinal na época, houve impacto significativo na redução da incidência de coqueluche, de 76,2/100.000 habitantes em 1961 para 12,7/100.000 habitantes em 1981. Em 1995, a vacina de células inteiras foi substituída pela acelular. Desde então, houve um aumento significativo da cobertura vacinal, de 89,2% em 1998 para 96,2% em 2010. Atribuiu-se esse aumento da adesão populacional ao melhor perfil de reatogenicidade da vacina acelular. As altas taxas de cobertura vacinal na população permitiram atingir taxas de incidência de coqueluche menores do que 7/100.000 habitantes a partir do ano 1999.7

Outro estudo relevante foi o de Dagan e colaboradores (1997), que comparou a imunogenicidade e o perfil de segurança das vacinas acelulares e de células inteiras. Este estudo demonstrou que a vacina acelular é tão imunogênica quanto, e significativamente menos reatogênica, do que a vacina de células inteiras. A incidência de eventos adversos locais (principalmente dor no local da aplicação) foi 2 a 3 vezes menor com a vacina acelular do que com a de células inteiras. Os eventos adversos sistêmicos (principalmente febre) também foram menos frequentes nas vacinas acelulares, sendo com o risco de ocorrência de 4 a 9 vezes menor.6

A Organização Mundial de Saúde (OMS) divulgou, em 2014, dados compatíveis com os achados dos estudos citados acima. Segundo esses dados, a ocorrência de eventos adversos leves (febre, dor, edema e vermelhidão local, vômitos, sonolência, agitação e hiporexia) é maior com a vacina de células inteiras do que com a acelular. Além disso, a incidência de eventos adversos graves (choro persistente por mais de 1 hora, convulsões e episódios hipotônicos-hiporresponsivos) é menor na vacina acelular.8

A Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm) recomenda três doses dessas vacinas (aos 2, 4 e 6 meses), seguida por dois reforços: aos 15-18 meses (com a pentavalente acelular ou pentavalente de células inteiras) e aos 4-6 anos (com DTPa, DTPw ou dTpa-VIP). O reforço seguinte deve ser feito cinco anos após (preferencialmente aos 9-11 anos de idade) e, depois, a cada 10 anos com a vacina dTpa.1,2,10

Dentre as vacinas mencionadas acima, é válido destacar a relevância da vacina hexavalente acelular, disponível apenas na rede particular.1,2,4 Além da menor incidência e gravidade de seus efeitos colaterais, a vacina hexavalente acelular tem um amplo espectro de proteção para  6 doenças. Somada às doenças prevenidas pela tríplice bacteriana (difteria, tétano e coqueluche), a hexavalente fornece proteção contra a poliomielite (que pode ter como grave sequela a paralisia nos membros inferiores), hepatite B e infecção por haemophilus influenzae tipo b (bactéria que pode causar meningite e outras sequelas graves). 4,6

No atual cenário de necessidade de aumento da cobertura vacinal, as características referidas acima tornam a hexavalente acelular uma estratégia muito útil e positivamente impactante. Afinal, a adesão populacional, principalmente do público infantil, pode melhorar significativamente diante da praticidade e comodidade dos esquemas vacinais combinados propostos.1,4,9

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Autor

Residência médica em Clínica Médica e Gastroenterologia pelo HC-UFMG ⦁ Mestrado em saúde do adulto com ênfase em Gastroenterologia pela UFMG ⦁ Doutorado em saúde do adulto com ênfase em Hepatologia pela UFMG ⦁ Chefe da Gastrohepatologia do Hospital da Polícia Militar de Minas Gerais ⦁ Preceptor de hepatologia e clínica médica do HC-UFMG ⦁ Conteudista do Whitebook – área de Gastroenterologia e Hepatologia ⦁ Membro da AASLD, ALEH, SBH, GEDIIB ⦁ Coordenador de Jovens Investigadores da ALEH ⦁ Professor convidado da UFMG.

Referências bibliográficas:
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  • 1. SOCIEDADE BRASILEIRA DE IMUNIZAÇÕES. Calendário Vacinal Criança. Disponível em: <https://sbim.org.br/images/calendarios/calend-sbim-crianca.pdf>. Acesso em 09 jan. 2023.
  • 2. SOCIEDADE BRASILEIRA DE PEDIATRIA. Calendário de Vacinação. Disponível em: <https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_upload/sbp/2022/setembro/23/23625e-DC_Calendario_Vacinacao_-_Atualizacao_2022.pdf>. Acesso em: 09 jan. 2023
  • 3. INFANRIX PENTA [vacina adsorvida difteria, tétano, pertussis (acelular), poliomielite 1, 2 e 3 (inativada) e Haemophilus influenzae B (conjugada)]. Bula da vacina.
  • 4. INFANRIX HEXA [vacina adsorvida difteria, tétano, pertussis (acelular), hepatite B (recombinante), poliomielite 1, 2 e 3 (inativada) e Haemophilus influenzae b (conjugada)]. Bula da vacina.
  • 5. Ministério da Saúde. Informe técnico da introdução da vacina pentavalente. Disponível em: . Acesso em: 13 abr. 2022.
  • 6. DAGAN, R. et al. “Safety and immunogenicity of a combined pentavalent diphtheria, tetanus, acellular pertussis, inactivated poliovirus and Haemophilus influenzae type b-tetanus conjugate vaccine in infants, compared with a whole cell pertussis pentavalent vaccine.” The Pediatric infectious disease journal 16,12 (1997): 1113-21.
  • 7. GONFIANTINI, MV. et al. Epidemiology of pertussis in Italy: Disease trends over he last century. Euro Surveill 2014; 19:pii=20921.
  • 8. WORLD HEALTH ORGANIZATION. Information Sheet observed rate of vaccine reactions: diphtheria, pertussis, tetanus vaccines. Disponível em: <https://cdn.who.int/media/docs/default-source/pvg/global-vaccine-safety/dtp-vaccine-rates-information-sheet.pdf?sfvrsn=511803ec_4&download=true>. Acesso em: 18 jan. 2023.
  • 9. DODD, Daisy. The American journal of managed care. Benefits of Combination Vaccines: Effective Vaccination on a Simplified Schedule. , [S. l.], v. 9, n. 1, p. 6-12, 1 jan. 2003.
  • 10. SOCIEDADE BRASILEIRA DE IMUNIZAÇÕES. Calendário de vacinação do nascimento à terceira idade. Disponível em: . Acesso em 19 jun. 2023.


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