Nos últimos meses, grande parte das regiões do Brasil vêm observando um aumento importante dos casos de arboviroses, como zika, chikungunya e, notadamente, dengue. Como os sinais e sintomas das infecções agudas por esses tipos de vírus são inespecíficos e muito semelhantes, o diagnóstico definitivo, apenas pelo quadro clínico, pode ser de difícil realização.
Nesse sentido, o Laboratório Clínico apresenta um papel fundamental, na medida em que, através de exames específicos capazes de detectar, por exemplo, o material genético (ex.: RT-PCR, sequenciamento), anticorpos (IgM, IgG) e/ou antígenos (ex.: NS1) virais, pode auxiliar na confirmação do diagnóstico e direcionar o tratamento e seguimento adequado de cada caso.
Ag NS1
O antígeno (Ag) NS1, do inglês nonstructural protein 1, é uma glicoproteína não estrutural comum a todos os quatro sorotipos do vírus causador da dengue (DENV-1, DENV-2, DENV-3 e DENV-4), sendo intensamente produzido e liberado na circulação durante o processo de replicação viral.
Ele pode ser detectado no soro de pacientes infectados já nos primeiros dias de sintomas, notadamente do 1° ao 5° (seu pico sérico ocorre por volta do 3o dia), podendo-se prolongar, em alguns casos, até o 7o dia. Por conseguinte, a janela de oportunidade para a sua realização ocorre no início da infecção, período esse anterior ao aparecimento dos anticorpos específicos (IgM e IgG) e, dessa maneira, o NS1 é considerado um importante marcador de fase aguda da doença.
A pesquisa laboratorial dessa proteína viral no sangue está disponível em duas metodologias: ELISA (ensaio imunoenzimático) e teste rápido qualitativo (imunocromatografia), com sensibilidades e especificidades muito variáveis, a depender do kit diagnóstico, estágio da doença, sorotipo viral e tipo de infecção (ex.: a sensibilidade é maior em infecções primárias em relação às secundárias).
Também está disponível comercialmente a determinação do antígeno NS1 em conjunto com os anticorpos IgM e IgG para dengue de maneira simultânea no mesmo teste/amostra.
Vantagens e desvantagens
As principais vantagens do teste rápido imunocromatográfico de fluxo lateral para a detecção do NS1 se baseiam na rapidez de seu resultado (disponível em cerca de 15-20 minutos), em seu relativo baixo custo, ampla disponibilidade, além da possibilidade da sua realização em regiões distantes dos grandes centros, fora do ambiente laboratorial, sem a necessidade de grande infraestrutura/profissionais especializados para a sua execução/interpretação.
Todavia, esse tipo de teste rápido apresenta um pior desempenho analítico quando comparado às metodologias moleculares, além de não ser capaz de distinguir os sorotipos virais, informação importante em termos de vigilância em saúde e para avaliação da dinâmica da circulação viral, por exemplo.
Cumpre destacar que, notadamente em períodos epidêmicos e frente à suspeita clínico-laboratorial com sinais e sintomas de alerta/gravidade, um eventual resultado negativo do NS1 não deve condicionar e/ou postergar a conduta clínica (devido à possibilidade de um resultado falso-negativo), recomendando-se, nesse caso, novos exames para diagnóstico diferencial e/ou confirmação com métodos de biologia molecular.
Considerações finais
Apesar das metodologias diretas (ex.: RT-PCR, isolamento viral, sequenciamento genético) possuírem um excelente desempenho analítico, elas são técnicas mais caras, menos disponíveis, com resultados demorados (alguns dias) e que necessitam de infraestrutura laboratorial mais avançada para sua execução.
Nessa linha, a pesquisa do antígeno NS1 no sangue é uma alternativa diagnóstica interessante aos métodos moleculares, devendo ser utilizada clínico-laboratorialmente como um indicador precoce de viremia, com coleta realizada, especialmente, do 1o ao 5o dia de sintomas.
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Autor
Graduação em Medicina pela Universidade Gama Filho (UGF) • Residência Médica em Patologia Clínica/Medicina Laboratorial pela Universidade Federal Fluminense (UFF) • Membro titular da Sociedade Brasileira de Patologia Clínica/Medicina Laboratorial (SBPC/ML) • Pós-Graduado em Medicina do Trabalho pela Faculdade Souza Marques (FTESM) • Responsável Técnico do Laboratório Morales (Grupo Tommasi) • Médico Patologista Clínico do Laboratório Central do Hospital Universitário Antônio Pedro (HUAP/UFF) • Médico do corpo clínico do Instituto Estadual de Doenças do Tórax Ary Parreiras (IETAP).
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