De acordo com as previsões da Organização da Nações Unidas, o número de pessoas no mundo com 65 anos ou mais aumentará de 1 em 11 em 2019, para 1 em 6 em 2050. Já a população brasileira passará de 215 milhões de habitantes, sendo 33 milhões de idosos. Esse envelhecimento da população tem motivado muitos estudos, entre eles o papel da deficiência de taurina.
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Taurina: definição e funções
A taurina é um aminoácido não essencial encontrado em altas concentrações no corpo humano, especialmente no cérebro, coração, músculos e tecidos nervosos e desempenha várias funções biológicas importantes. Em células de mamíferos, a taurina é produzida a partir da cisteína e também pode ser obtida da dieta sendo absorvida pelas células por meio de transportadores de taurina.
Também é conhecida por sua capacidade antioxidante, o que significa que pode ajudar a proteger as células contra danos causados por radicais livres, bem como por fatores externos, como a exposição ao sol e poluentes ambientais.
Os radicais livres podem causar estresse oxidativo e danificar as células, contribuindo para o envelhecimento e o desenvolvimento de doenças relacionadas à idade, como doenças cardiovasculares e neurodegenerativas. Desempenha ainda importante papel na regulação dos níveis de cálcio nas células, o que é essencial para a adequada função dos músculos e do sistema nervoso.
Envelhecimento e o papel da taurina
O envelhecimento é um processo complexo que afeta todo o organismo. As alterações relacionadas ao envelhecimento se manifestam como “marcas do envelhecimento”, causando declínio das funções dos órgãos, aumentando o risco de doenças e morte.
O declínio funcional dos órgãos envolve células autônomas, inclui instabilidade genômica, disfunção mitocondrial, exaustão de células-tronco, acúmulo de células senescentes, além de mudanças nas concentrações de metabólitos endógenos, hormônios e micronutrientes no sangue.
Dentre os micronutrientes, observou-se que as concentrações de taurina diminuem com o envelhecimento em camundongos, macacos e humanos e que uma reversão desse declínio através da suplementação de taurina aumentou o “health span” (o período de vida saudável).
Observou-se, ainda, que a taurina reduziu a senescência celular, protegendo contra deficiência de telomerase e a disfunção mitocondrial, além de reduzir a inflamação e os danos ao DNA (ácido desoxirribonucleico), que apresenta todas as informações genéticas do indivíduo. Os feitos da taurina nos mecanismos celulares em aumento do tempo de vida saudável estão listados abaixo:
- Supressão da senescência
- Supressão das consequências adversas de deficiência de telomerase
- Redução dos danos oxidativos ao DNA
- Evita alterações na transcrição do DNA durante o envelhecimento
- Melhora a detecção de nutrientes pelas células envelhecidas
- Redução de citocinas inflamatórias
- Efeitos positivos na saúde de células-tronco ou na sua renovação
- Proteção contra disfunção mitocondrial.
Alguns pesquisadores sugeriram que a deficiência de taurina pode ser um fator contribuinte para o envelhecimento acelerado. As concentrações de taurina e seus metabólitos diminuem em alguns tecidos com a idade, e suplementação de taurina em animais jovens aumenta as funções de vários órgãos.
Este ano, um estudo mediu a concentração sanguínea de taurina durante o envelhecimento e investigaram o efeito de sua suplementação e tempo de vida, tendo observado:
- Redução do ganho de peso corporal associado à idade e massa óssea melhorada em camundongos fêmeas tratados com taurina;
- Redução de comportamento depressão-like e ansiedade, aprimoramento de comportamento exploratório e memória em camundongos fêmeas tratados com taurina;
- Melhora da homeostase da glicose e tempo de trânsito gastrointestinal em camundongos fêmeas tratados com taurina.
Descobriu-se, ainda, que níveis mais altos de taurina foram associados com menor índice de massa corporal e relação cintura-quadril, bem como menor obesidade central. Além disso, níveis mais altos de metabólitos de taurina (hipotaurina e N-acetiltaurina) foram associadas a uma menor prevalência de diabetes mellitus tipo 2 e níveis mais baixos de glicose, Proteína C-reativa, colesterol e transaminases.
Em humanos, níveis mais baixos da taurina foram associados a múltiplas doenças associadas à idade, como obesidade, diabetes e inflamação. Estes são os efeitos patológicos na deficiência de taurina:
- Diabetes
- Hiperglicemia
- Obesidade
- Hipertensão
- Inflamação
- Doenças hepáticas
O estudo em questão mostrou que as concentrações de taurina aumentam em homens saudáveis após exercício de resistência e após 24 semanas do treinamento físico em indivíduos obesos. Embora os mecanismos que aumentem a concentração sérica de taurina após o exercício não sejam claros, esses resultados sugerem que alguns dos benefícios do exercício para a saúde podem ser explicados por um aumento nas concentrações de taurina no sangue.
Suplementação de taurina
A abundância de taurina diminui durante o envelhecimento. Uma reversão desse declínio através da suplementação aumenta o health span em parasitas, ratos e macacos. Isso identifica a deficiência de taurina como um fator de envelhecimento nessas espécies. No entanto, é importante ressaltar que o envelhecimento é um processo complexo e multifatorial, e a taurina é apenas um dos muitos fatores que podem influenciar esse processo.
Para testar se a deficiência de taurina é um precursor do envelhecimento em humanos, mais pesquisas são necessárias para entender completamente o seu papel no envelhecimento e para determinar se a suplementação de taurina pode ter benefícios significativos na prevenção ou no tratamento de condições relacionadas à idade.
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Conclusão
A reversão da deficiência de taurina durante o envelhecimento pode ser uma estratégia antienvelhecimento promissora. A taurina não tem efeitos tóxicos conhecidos em humanos e pode ser administrada por via oral. Entretanto, testes em humanos são necessários para provar cientificamente a eficácia da suplementação de taurina no envelhecimento saudável.
Este artigo foi escrito em parceria com: Danielle Martins Fernandes e Souza – Especialização em Gastrenterologia pelo Hospital Lifecenter. Especialização em Clínica Médica pelo Hospital Mater Dei, BH. Título de Especialista em Clínica Médica pela AMB. Gastrenterologista da Clínica NU.VE.M, BH.
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Autor
Graduação em Medicina pela UFMG em 1989 • Residência em Clínica Médica/Patologia Clínica pelo Hospital Sarah Kubistchek • Gastroenterologista pela Federação Brasileira de Gastroenterologia • Especialista em Doenças Funcionais e Manometria pelo Hospital Israelita Albert Einstein • Mestre e Doutora em Ciências com concentração em Patologia pela UFMG • Docente do curso de pós graduação em Doenças Funcionais e Manometria pelo Hospital Israelita Albert Einstein • Responsável técnica da Clínica NU.V.E.M BH • http://lattes.cnpq.br/0589625731703512
- Parminder Singh et al. Taurine deficiency as a driver of aging. Science 380, eabn 9257(2023). DOI:10.1126/science.abn9257.