O que já vinha se prenunciando, foi confirmado: o Brasil encerrou 2023 com o maior número de doações de órgãos registrado na última década. De janeiro a setembro, foram 6.766 transplantes em todo o país — 12% a mais em relação ao ano anterior, quando foram registrados 6.055, no mesmo período.
Em setembro de 2023, foi lançado o Programa de Incremento Financeiro para o Sistema Nacional de Transplante, que tem como objetivo não apenas aumentar o número de transplantes em todo o país, mas aprimorar todos os processos envolvidos nas operações. Na sequência, em novembro, foi sancionada a Lei nº 14.722, que institui a Política Nacional de Conscientização e Incentivo à Doação e ao Transplante de Órgãos e Tecidos.
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A política elenca como prioridade o investimento em programas de formação continuada para gestores e profissionais da saúde e da educação que contemplem a doação de órgãos. A lei cria também uma semana de atividades no calendário escolar, em setembro, para a abordagem do assunto.
Da base ao topo
Para o Dr. Alexandre Cauduro, Diretor do RJ Transplantes, programa da Secretaria de Estado de Saúde, no entanto, o aumento registrado em 2023 se deve à conjunção de diversos fatores, sendo o fortalecimento das Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos e Tecidos para Transplante, o maior deles.
“De uns anos pra cá, percebeu-se que alguns modelos de doação se mostravam mais efetivos, como os desenvolvidos em Santa Catarina e Paraná, por exemplo. A partir de então, os gestores de saúde passaram a replicar o que vinha sendo feito nesses estados: basicamente o fortalecimento das CIHDOTT, o que implica, entre outras iniciativas, na capacitação de profissionais de saúde, para que estejam cada vez mais aptos a lidar com exclusividade com todos as etapas do transplante”, afirma Dr. Alexandre.
Cardiologista por formação, Cauduro faz questão de lembrar que os médicos são apenas alguns dos profissionais que lidam diretamente com os potenciais doadores. “Enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, educadores, todos têm um papel fundamental na busca ativa por doadores e na acolhida aos familiares, pois são eles que, efetivamente, autorizam ou não a doação”.
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O médico destaca que fazer o referenciamento adequado para o paciente que precisa dos programas de transplante é crucial. “Uma das maiores causas de admissão em emergências no Rio de Janeiro é por insuficiência cardíaca congestiva. Mas um paciente com esse quadro já sofre da condição há anos, e provavelmente não foi encaminhado corretamente pelos médicos para ser avaliado para uma possível intervenção cirúrgica”, afirma. “Quando criamos demanda, ajudamos a dar fluxo nesse sistema de doação e transplante”, completa.
Pontos de atenção
Mesmo com o aumento no número de transplantes, o percentual de familiares que se recusou a doar os órgãos de entes falecidos subiu para 49%. De acordo com dados da Associação Brasileira de Transplante de Órgãos, antes da pandemia esse percentual era por volta de 43%. No Brasil, a autorização para doação de órgãos é prerrogativa da família, sendo, portanto, necessário que o potencial doador comunique ainda em vida seu desejo de doar os órgãos saudáveis.
Cenário atual do transplante de órgãos
No momento, 41.559 pessoas seguem aguardando por um órgão novo. Desse total, 24.393 são homens e 17.165 são mulheres. Os órgãos mais transplantados são rim (4.514 cirurgias realizadas), fígado (1.777) e o coração (323). O quantitativo de transplante de córnea segue alto. Entre janeiro e setembro do ano passado, o total de cirurgias foi de 11.932, contra 10.544 de 2022.
“O maior desafio da saúde pública hoje é conseguir chegar até os vazios assistenciais, como por exemplo a região Norte do país, para que os pacientes não precisem mais migrar de cidade para realizar a cirurgia que vai lhes devolver a vida”, finaliza Dr. Alexandre Cauduro.
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Autor
Roberta Santiago é jornalista desde 2010 e estudante de Nutrição. Com mais de uma década de experiência na área digital, é especialista em gestão de conteúdo e contribui para o Portal trazendo novidades da área da Saúde.