Recentemente foi publicada a diretriz europeia para manejo da hipertensão, com a recomendação de que os betabloqueadores (BB) podem ser usados como primeira escolha para tratamento (recomendação IA), semelhante aos inibidores da ECA (IECA), bloqueadores do receptor de angiotensina (BRA), bloqueadores de canal de cálcio (BCC) e diuréticos tiazídicos.
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A recomendação anterior, de 2018, era que poderia ser uma opção, caso o paciente apresentasse alguma outra indicação para esta classe, como angina, infarto agudo do miocárdio (IAM), insuficiência cardíaca (IC) ou necessitasse de controle de frequência. Essa é a recomendação atual da maioria das diretrizes sobre o assunto.
Essa mudança gerou algumas controvérsias e, recentemente, foi publicado um artigo no Lancet, com algumas considerações importantes. Os principais argumentos para a não utilização dos BB como primeira linha de tratamento seguem abaixo.
A hipertensão tem repercussões importantes, como a ocorrência de acidente vascular cerebral (AVC), tanto isquêmico quanto hemorrágico e estudos randomizados e controlados que avaliaram uso de betabloqueadores e desfecho de AVC não mostraram diferença em relação ao placebo. Além disso, mostraram menor eficácia em relação a uso de BRA e BCC. Diversas meta-análises corroboraram esses resultados.
Uma meta-análise maior, com quase 250 mil pacientes não mostrou benefício do BB em mortalidade cardiovascular e a redução da ocorrência de AVC foi quase 50% menor comparado às outras classes de medicação.
Apesar de os BB poderem ser usados para outras finalidades que não tratamento de hipertensão, seu uso exclusivo para essa doença pode ser deletério para o paciente, que passaria a receber medicação com menor eficácia que outras disponíveis.
Mesmo as comorbidades para as quais os BB são indicados têm evidência limitada. No IAM, por exemplo, a indicação seria para redução de pressão arterial e prevenção de eventos cardiovasculares, como reinfarto e AVC, porém já vimos que a redução de AVC é maior com outras classes de medicações.
O que também justifica não utilizá-los em casos de hipertensão e fibrilação atrial, pois o benefício na prevenção de AVC é maior com controle de hipertensão com outras drogas, como BRA e BCC, mesmo no contexto de fibrilação atrial. Além disso, os efeitos colaterais com BB são diversos, como fadiga, disfunção erétil e sintomas depressivos.
A doença com melhor evidência para uso dessa classe de medicação é a IC com fração de ejeção reduzida, que apresenta grande redução de mortalidade com os betabloqueadores testados especificamente para essa patologia e no caso de paciente hipertenso com IC deve ser medicação de primeira escolha, sem dúvidas.
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Comentários e conclusão
Levando em consideração a evidência científica atual, no paciente hipertenso, não parece adequado colocar o uso de betabloqueadores na mesma categoria de indicação que as outras classes de medicações que sabidamente reduzem eventos nesses pacientes, mesmo que seja para facilitar o tratamento anti-hipertensivo.
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Autor
Editora de cardiologia do Portal PEBMED ⦁ Graduação em Medicina pela Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP) ⦁ Residência em Clínica Médica pela UNIFESP ⦁ Residência em Cardiologia pelo Instituto do Coração (InCor) do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) ⦁ Atualmente atuando nas áreas de terapia intensiva, cardiologia ambulatorial, enfermaria e em ensino médico.
- Mancia(Chairperson), Giuseppea,∗; Kreutz(Co-Chair), Reinholdb,∗; Brunström, Mattiasc; Burnier, Micheld; Grassi, Guidoe et al. 2023 ESH Guidelines for the management of arterial hypertension The Task Force for the management of arterial hypertension of the European Society of Hypertension Endorsed by the International Society of Hypertension (ISH) and the European Renal Association (ERA). Journal of Hypertension ():10.1097/HJH.0000000000003480, June 21, 2023. | DOI: 10.1097/HJH.0000000000003480