Atualização no diagnóstico e manejo da Rinite Alérgica

A rinite pode ser compreendida como uma alteração disfuncional da mucosa de revestimento nasal, podendo se manifestar com obstrução nasal, rinorreia, espirros, prurido nasal e hiposmia. Ela pode ter diversos fatores etiológicos, sendo um dos mais prevalentes a reação inflamatória de hipersensibilidade mediada por IgE induzida pela inalação de alérgenos. A esse quadro nomeamos rinite alérgica (RA).1

A prevalência de RA é maior em países desenvolvidos.2 O impacto da RA na qualidade de vida é significativo, sendo um dos principais contribuintes para o custo total do absentismo relacionado à saúde assim como o presenteísmo (produtividade reduzida).3 No Brasil, a prevalência média de sintomas relacionados à rinite alérgica foi 29,6% entre adolescentes e 25,7% entre escolares, números que nos colocam no grupo de países que apresentam as maiores taxas de prevalência de asma e RA no mundo.4 Além disso, o não controle da doença leva à descompensação de outras, como a própria asma, elevando ainda mais os custos em saúde. Reconhecer os sintomas e o diagnóstico da RA é fundamental para o manejo dos casos, sobretudo entre profissionais de saúde.4

Definindo a rinite alérgica

A RA pode ser definida como a presença de sintomas nasais causados por reações mediadas por IgE contra alérgenos inalados envolvendo inflamação da mucosa, principalmente, por células T auxiliares tipo 2 (Th2).4,5 Com relação aos sintomas, estes podem incluir paroxismos de espirros, prurido/obstrução nasal, rinorreia, prurido em orofaringe, hiperemia e prurido oculares. É importante ressaltar que pode haver comorbidades, como otite e rinossinusite crônica associadas. A maioria dos pacientes apresenta esses sintomas minutos após o contato com o alérgeno, e parte deles terá novamente cerca de quatro a oito horas depois. Os alérgenos mais importantes incluem pólens e fungos sazonais, bem como alérgenos internos perenes, como ácaros, animais de estimação e pragas.4,5

A coexistência de sibilância pode sugerir a associação com a asma e, nessas situações, a realização de prova de função pulmonar com prova broncodilatadora torna-se indispensável como avaliação complementar.4 Asma e RA apresentam relação próxima por estarem associadas por aspectos fisiopatológicos e epidemiológicos semelhantes. Essa proximidade ficou clara no estudo colaborativo denominado International Study on Asthma and Allergies in Childhood (ISAAC), em que se observou que aproximadamente 80% dos pacientes asmáticos têm RA.4

O diagnóstico da rinite alérgica é baseado, principalmente, em características clínicas, como hipertrofia e palidez dos cornetos inferiores com secreção hialina. Esses sinais estão associados a uma disfunção do epitélio, vasos, glândulas e nervos e são originados de um infiltrado de células inflamatórias, mediadores inflamatórios e citocinas. Essas alterações prejudicam o processo de aquecimento, umidificação e filtração do ar inspirado.4 A dosagem de IgE total e específica, assim como o teste cutâneo para antígenos específicos podem ser úteis na detecção de atopia e corroborar com o diagnóstico. A rinoscopia e a tomografia computadorizada de seios da face podem ser realizadas para diagnóstico diferencial.4

Evidências crescentes sugerem que exposições ambientais, mudanças climáticas e estilo de vida são fatores de risco importantes para a RA.6 Os três elementos-chave do manejo da RA são:

  1. redução da exposição ao alérgeno sensibilizante, que inclui um espectro de recomendações de prevenção ambiental específicas para o alérgeno,
  2. farmacoterapia direcionada e
  3. imunoterapia subcutânea ou sublingual em casos selecionados.1

De forma geral, a terapia começa com anti-histamínicos orais, frequentemente iniciados pelo paciente, e a sua combinação com corticosteroides nasais aparenta ter melhores resultados em estudos controlados.1 Os corticosteroides nasais são as medicações mais usadas para a rinite alérgica e apresentam boa eficácia no controle de sintomas.1 Entre as drogas mais utilizadas, o spray nasal de furoato de fluticasona (FF) tem apresentado boa resposta e segurança na faixa etária pediátrica e adulta. Além disso, estudos recentes têm demonstrado uma afinidade maior do FF pelo receptor de glicocorticoides quando comparado a outros corticoides nasais levando ao aumento de sua potência anti-inflamatória e redução na necessidade de utilizar antialérgicos orais.7

A imunoterapia deve ser considerada em casos de rinite alérgica persistente moderada/grave que não responderam satisfatoriamente à terapia convencional. Uma das principais barreiras para o sucesso do tratamento com a imunoterapia é o fato de que, normalmente, estes pacientes costumam ser alérgicos a mais de um tipo de substância, dificultando, assim, a identificação do alérgeno candidato à vacina.1

A inclusão de medidas gerais e educação do paciente é etapa importante na abordagem da rinite alérgica. A fumaça do cigarro, principal poluente doméstico, pode causar efeitos nocivos no epitélio respiratório, sendo um fator de risco tanto para a rinite alérgica quanto para a asma. Uma boa prática de higiene nasal, com afastamento de exposições e tratamento adequado com anti-histamínicos orais e corticosteroides nasais, tende a ser a estratégia mais recomendada e aceita pela maioria dos pacientes4. A terapia adequada pode melhorar significativamente a qualidade de vida e impactar os resultados clínicos de curto e longo prazo.

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Autor

Residência em Clínica Médica e Pneumologia pelo HCFMUSP ⦁ Doutorando em Pneumologia pela USP ⦁ Fellow em Doenças Intersticiais Pulmonares

Referências bibliográficas:
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  • 1. Sakano E, et al. IV Consenso Brasileiro sobre Rinites – 2017. Documento conjunto da Associação Brasileira de Alergia e Imunologia, Associação Brasileira de Otorrinolaringologia e Cirurgia Cérvico-Facial e Sociedade Brasileira de Pediatria. Disponível em: . Acesso em: 30 mar 2023.
  • 2. Benninger M, Farrar JR, Blaiss M, et al. Evaluating approved medications to treat allergic rhinitis in the United States: an evidence-based review of efficacy for nasal symptoms by class. Ann Allergy Asthma Immunol 2010;104:13-29.
  • 3. Bousquet J, et al.  Allergic Rhinitis and  its Impacts on Asthma  2008 Update. Allergy Clin Immunol 2008;63(Suppl 86):8–160.
  • 4. Ibiapina CC, Sarinho ESC, Camargos PAM, Andrade CR, Cruz Filho ÁAS. Allergic Rhinitis: epidemiological aspects, diagnosis and treatment. J Bras Pneumol. 2008;34(4):230-240.
  • 5. Wheatley LM, Togias A. Clinical practice. Allergic rhinitis. N Engl J Med. 2015 Jan 29;372(5):456-63. doi: 10.1056/NEJMcp1412282.
  • 6. Okubo K, Kurono Y, Ichimura K, Enomoto T, Okamoto Y, Kawauchi H, Suzaki H, Fujieda S, Masuyama K; Japanese Society of Allergology. Japanese guidelines for allergic rhinitis 2020. Allergol Int. 2020 Jul;69(3):331-345. doi: 10.1016/j.alit.2020.04.001. Epub 2020 May 27.
  • 7. Meltzer, E. O. et al. Efficacy and safety of once-daily fluticasone furoate nasal spray in children with seasonal allergic rhinitis treated for 2 wk. Pediatr. Allergy Immunol. 20, 279–286 (2009).


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