A hemorragia subaracnóidea aneurismática (HSAa) é uma condição grave e, muitas vezes, letal. Há dados que demonstram taxa entre 22% e 26% de mortalidade por esta condição antes mesmo do indivíduo conseguir uma assistência hospitalar. A incidência de HSAa gira em torno de 6,1 a cada 100.000 pessoas-ano, com prevalência global em torno de 8,09 milhões de casos.
A causa mais prevalente dessa complicação é proveniente da ruptura de aneurismas cerebrais. A prevalência dos aneurismas cerebrais não rotos ainda é incerta, mas há publicações de estudos mais antigos que estimam entre 2 e 90 a cada 1000 indivíduos.
Leia mais: Existe relação entre uso de inibidores de bomba de prótons (IBPs) e demência?
O screening não é para todos. Por quê?
Apesar da ruptura aneurismática ser uma condição ameaçadora à vida, o screening na população geral não é recomendado. Aneurismas pequenos (diâmetro < 6mm) apresentam geralmente baixo risco de ruptura. Além disso, há dados que indicam que a abordagem cirúrgica aneurismática possui associações com morbimortalidade.
Em estudo multicêntrico internacional publicado na New England Journal of Medicine da década de 90, 1.449 pacientes com aneurisma intracraniano nãoroto foram acompanhados, sendo um grupo com história de HSAa prévia por outro aneurisma e outro sem histórico de HSAa.
Uma das análises realizadas foi avaliação de desfecho cirúrgico após 30 dias e um ano do acompanhamento. Após 30 dias, 2.3% (IC 95% 1.3–3.3) dos pacientes evoluíram para óbito – todos pertencentes ao grupo com aneurisma não roto sem história prévia de HSAa. Após um ano, 34 óbitos – sendo 30 relacionados à complicação cirúrgica – ocorreram no grupo sem história de HSAa, enquanto dois óbitos relacionados à cirurgia ocorreram no grupo com história prévia de HSAa.
Além disso, na avaliação de funcionalidade através da escala de Rankin, 78 pacientes do grupo sem história prévia de HSAa e oito do grupo que possuíam história prévia dessa complicação apresentaram Rankin acima de 3 após 30 dias. Quanto ao status cognitivo, foi avaliado comprometimento em 93 pacientes do grupo sem história de HSAa e m 21 do grupo com história prévia de HSAa.
Indicações de rastreio de aneurisma cerebral
Ainda assim, o rastreio pode ser considerado em algumas populações tidas de alto risco para formação de aneurismas, como:
- Parentes de primeiro grau com aneurisma cerebral, quando dois membros ou mais da família possuírem história prévia de hemorragia subaracnoide aneurismática;
A probabilidade de encontrar aneurisma não roto nesses casos geralmente é 10% no rastreio inicial e 5 a 7% no rastreio de follow-up com intervalo a cada 5 anos.
- Pacientes com transtorno hereditário associado à presença de aneurisma intracraniano, como:
→ Doença renal policística autossômica dominante;
→ Doenças do tecido conjuntivo:
- Síndrome de Ehlers-Danlos tipo IV;
- Aldosteronismo remediável por glicocorticoides;
- Pseudoxantoma elástico.
- Pacientes com história prévia de hemorragia subaracnóidea aneurismática;
Em pacientes com HSAa prévio que foram submetidos a reparo cirúrgico, há recomendação de rastreio para identificar recorrência ou novo crescimento do aneurisma que havia sido tratado.
Veja também: Ácido tranexâmico ajuda no desfecho de longo prazo em pacientes com trauma
Quais exames complementares indicados para o rastreio?
Os exames considerados razoáveis para rastreio são angiotomografia ou angioressonância de crânio contrastadas. Nesses exames, há boa sensibilidade para detectar aneurismas acima de 3mm. Em casos de aneurismas menores de 3mm, esses exames ainda são capazes de realizar tal detecção, porém geralmente a sensibilidade é menor, no caso de angiotomografia a sensibilidade gira em torno de 84 a 86% sem alterar especificidade.
Angiografia cerebral, para detecção de pequenos aneurismas, é ferramenta considerada invasiva e com pouco benefício para propostas de rastreio.
Selecione o motivo:
Errado
Incompleto
Desatualizado
Confuso
Outros
Sucesso!
Sua avaliação foi registrada com sucesso.
Avaliar artigo
Dê sua nota para esse conteúdo.
Você avaliou esse artigo
Sua avaliação foi registrada com sucesso.
Autor
Médica formada pela Universidade Federal Fluminense em 2016. ⦁ Neurologista pela Universidade Federal do Rio de Janeiro em 2020. ⦁ Fellow em Anormalidades do Movimento e Neurologia Cognitiva pelo Hospital das Clínicas da UFMG em 2021. ⦁ Atualmente, compõe o corpo clínico como neurologista de clínicas e hospitais em Belo Horizonte como o Centro de Especialidades Médicas da Prefeitura de Belo Horizonte, Hospital Materdei Santo Agostinho e Hospital Vila da Serra.
- Crawley, Francesca, Andrew Clifton, and Martin M. Brown. “Should we screen for familial intracranial aneurysm?.” Stroke 30.2 (1999): 312-316.