AIDS 2023: Recomendações sobre coinfecção tuberculose-HIV

A 12ª Conferência da International AIDS Society (IAS) em ciência sobre o HIV deu início às suas sessões neste sábado (22), em Brisbane, Austrália (pelo horário de Brasília). A Conferência visa a discutir aspectos fundamentais sobre os cuidados de pessoas que vivem com HIV (PVHIV), apresentando novidades sobre tratamento, prevenção e manejo de comorbidades. 

Uma das primeiras sessões falou sobre um tema muito frequente e importante na prática clínica: a coinfecção TB-HIV. Com uma série de palestras, os pontos principais estão sumarizados a seguir. 

IAS 2023

Dados apresentados

– De 2010 a 2021, tanto o número de casos quanto o número de mortes têm diminuído no mundo. Ainda sim, existe uma diferença de 48% entre o número estimado de casos de TB em pacientes com HIV e o número de pacientes notificados, mostrando uma deficiência no diagnóstico de TB nessa população. Além disso, estima-se que em 2020 um terço de todas as mortes em pacientes com AIDS estavam relacionadas à TB. 

– A taxa de sucesso de tratamento de TB em PVHIV ainda é menor do que em pessoas sem infecção pelo vírus: 77% vs. 86%, respectivamente. 

– A Organização Mundial de Saúde (OMS) recomenda que, a cada visita ao serviço de saúde, os pacientes vivendo com HIV sejam rastreados para tuberculose. 

– Uma das ferramentas recomendadas para esse rastreio é a pesquisa ativa por sintomas. Para adultos, a OMS recomenda que PVHIV sejam questionados sobre a presença de tosse, febre, sudorese noturna e perda ponderal. Já para crianças (< 15 anos), recomenda-se a pesquisa de tosse ativa, febre, falha em ganhar peso ou contato próximo com um paciente com TB. Um dos problemas dessa abordagem é a relativamente baixa especificidade. 

– Como recomendação condicional, a dosagem de PCR – com um cut-off de 5mg/L – também é outra forma de rastreio, estando disponível de forma point-of-care em alguns cenários. Em estudos conduzidos em locais com alta carga de TB (>1%), a dosagem de PCR mostrou uma sensibilidade semelhante e uma especificidade semelhante ou maior do que a de pesquisa de sintomas em pacientes com PVHIV. 

– A solicitação de radiografia de tórax, em conjunto com a pesquisa de sintomas, é considerada a estratégia com maior sensibilidade para o diagnóstico de TB em PVHIV em uso de terapia antirretroviral (TARV), apesentando maior sensibilidade e especificidade semelhante à pesquisa de sintomas quando aplicada de forma isolada. 

– O uso de testes moleculares é fortemente recomendado em PVHIV internados em locais com alta prevalência da doença (≥ 10%), sem necessidade de outros testes diagnósticos. A recomendação de sua utilização torna-se condicional em todas as outras pessoas com HIV. 

– Para crianças, há dois grupos em que o rastreio é fortemente recomendado: contatos com pacientes com TB e crianças com HIV. As ferramentas fortemente recomendadas para esse fim são rastreio de sintomas (tosse, febre e perda de peso) e a solicitação de Rx de tórax em crianças com contato próximo com paciente com TB e, em crianças menores de 10 anos com HIV, a pesquisa de sintomas (tosse ativa, febre, falha em ganhar peso ou contato próximo com paciente com TB ativa). 

–  Entre as novas ferramentas diagnósticas, uma destacada é o LF-LAM, um teste urinário e point-of-care. Além da facilidade de uso, uma das vantagens do LF-LAM é o aumento de sensibilidade com imunossupressão avançada pelo HIV. Com isso, é recomendado em pacientes com HIV e imunossupressão avançada, em indivíduos que estão criticamente doentes ou sintomáticos e pacientes assintomáticos com indicação de rastreio de TB devido à sua contagem de linfócitos T-CD4. 

Tabela para diagnóstico

Outras ferramentas diagnósticas baseadas em técnicas moleculares também foram apresentadas, com foco nas amostras em que podem ser utilizadas e em sua capacidade de detectar padrões de resistência: 

Teste  Amostras  Resistência detectada 
Xpert® MTB/RIF  Escarro, urina, sangue, LCR, linfonodos, líquidos sinovial, pleural, peritoneal e pericárdico  Rifampicina 
Xpert® MTB/RIF Ultra  Escarro, LCR, linfonodos  Rifampicina 
Truenat™ MTB, MTB Plus, MTB-RIF  Escarro  Rifampicina 
TB-LAMP  Escarro   
NAATs automatizados de moderada complexidade  Escarro  Rifampicina e Isoniazida 
LF-LAM  Urina   

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Autor

Infectologista pelo Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (UFRJ) ⦁ Graduação em Medicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro

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