Abordagem do hipertireoidismo: conduta baseada em revisão de dez anos

O hipertireoidismo é uma condição que afeta aproximadamente 0,2% a 1,4% da população mundial sendo caracterizada por concentrações séricas do hormônio estimulante da tireoide (TSH) suprimidas e altas concentrações de triiodotirona (T3) ou tiroxina livre (T4L).

O hipertireoidismo não tratado pode acarretar arritmias, insuficiência cardíaca, osteoporose e desfechos negativos na gestação, além de estar associado com aumento da mortalidade. Sendo assim, é de suma importância o seu reconhecimento e diagnóstico corretos na prática clínica. 

Atualmente, existem diversos artigos sobre suas causas, apresentação clínica e opções de tratamento. Recentemente, foi publicada uma revisão pela JAMA, com uma abordagem completa baseada em estudos de 2013 a 2023. Segue abaixo um resumo dessa revisão:  

Veja também: Abordagem da obesidade em adultos

hipertireoidismo

Prevalência

A prevalência global de hipertireoidismo é baixa, variando de 0,2 a 2,5%, sendo a principal causa a doença de Graves. Outras causas incluem bócio multinodular tóxico, adenoma tireoidiano tóxico, tireoidites e tireotoxicose induzida por medicamentos.  

A doença de Graves é uma doença autoimune na qual autoanticorpos direcionados ao receptor do hormônio tireoestimulante (TSH) na tireoide, estimulam a síntese e secreção dos hormônios tireoidianos independente do estímulo do TSH. Já o bócio multinodular tóxico e o nódulo solitário tóxico são caracterizados por produção autônoma dos hormônios tireoidianos, devido à ativação de variantes em genes que regulam a secreção hormonal.

Dentre as tireotoxicoses induzidas por medicamentos, a mais comum é pela amiodarona. A tireotoxicose do tipo 1 resulta em aumento da síntese do hormônio tireoidiano devido ao alto teor de iodo na medicação, ao passo que a do tipo 2 ocorre devido à destruição da glândula, acarrentando na liberação hormonal.  

Manifestações clínicas, sinais e sintomas

Em relação aos aspectos clínicos, os sinais e sintomas mais comuns do hipertireoidismo são ansiedade, insônia, taquicardia, perda ponderal não intencional, diarreia, fraqueza proximal e intolerância ao calor. Bócio volumoso e exoftalmia são mais frequentes nos pacientes com Doença de Graves. 

A definição etiológica pode ser definida baseada na apresentação clínica, nos testes de função tireoidiana (baixos níveis de TSH e altos níveis de T4l/T3) e na dosagem de anticorpos, sendo a presença dos anticorpos antirreceptor de TSH (TRAbs) patognomônica da doença de Graves.   

Abordagem diagnóstica

Em relação aos exames de imagem, a cintilografia de tireoide com Iodo Radioativo ou Tecnécio 99m pertecnato é recomendada se há nódulos tireoidianos palpáveis ou se a etiologia da tireotoxicose ainda é incerta após a dosagem do TRAb. A captação é difusamente aumentada na doença de Graves ou aumentada de forma focal ou heterogênea em casos de nódulo solitário tóxico ou bócio multinodular tóxico. 

Tratamento

O tratamento conta com algumas opções tais como: drogas antitireoidianas, ablação com iodo radioativo ou cirurgia, sendo que cada opção deve ser individualizada de acordo com o paciente. A tireotoxicose não tratada, especialmente em indivíduos idosos, pode acarretar osteoporose, fibrilação atrial e, em casos mais graves, insuficiência cardíaca.

Já em relação ao hipertireoidismo subclínico (níveis baixos de TSH e T4l normais), deve-se considerar o tratamento apenas em pacientes > 65 anos ou quando os níveis de TSH encontram-se persistentemente abaixo de 0,1mIU/L. 

Além disso, o tratamento deve levar em consideração: idade, severidade do hipertireoidismo, probabilidade de remissão da doença, planos de gestação e preferência do paciente. Em indivíduos muito sintomáticos, o tratamento adjuvante com betabloqueadores pode aliviar os sintomas adrenérgicos e na gestante, o propiltiouracil é preferido no primeiro trimestre da gestação por ser menos teratogênico. 

Dentre as drogas antitireoidianas (tionamidas), temos as opções do metimazol e do propiltiouracil, sendo o metimazol a escolha de primeira linha para as pacientes que não estão no primeiro trimestre de gestação. A monitorização deve ser feita a cada dois a quatro meses após o início do tratamento com a dosagem da função tireoidiana. 

O tratamento com iodo radioativo é reservado aos pacientes com falha terapêutica medicamentosa, níveis de T4L persistentemente elevados e aumento do volume tireoidiano, enquanto a cirurgia com tireoidectomia total fica reservada para pacientes com sintomas compressivos devido a bócio tireoidiano volumoso, suspeita de nódulos malignos ou moderada/severa oftalmopatia de Graves. 

Em alguns centros de tratamento, uma nova opção é a ablação por radiofrequência, que induz a necrose de tecido tireoidiano por energia térmica. É um procedimento minimante invasivo, reservado para pacientes jovens com pequenos nódulos tóxicos, embora possa ser considerado para pacientes com bócio volumoso e contraindicação cirúrgica. Outras modalidades de tratamento ainda em estudo envolvem mecanismos imunomodulatórios sobre o recepetor de tireotropina.  

Saiba mais: Baricitinibe pode retardar início da terapia com insulina na diabetes tipo 1?

Conclusão 

O hipertireoidismo pode afetar até 2,5% da população mundial, estando fortemente associado à osteoporose, doenças cardiovasculares e aumento de mortalidade. É importante, portanto, seu diagnóstico precoce visando evitar as complicações da doença. O tratamento de primeira linha inclui as drogas antitireoidianas, tireoidectomia total e ablação com radioiodo. 

Selecione o motivo:

Errado

Incompleto

Desatualizado

Confuso

Outros

Sucesso!

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

Avaliar artigo

Dê sua nota para esse conteúdo.

Você avaliou esse artigo

Sua avaliação foi registrada com sucesso.

LEAVE A REPLY

Please enter your comment!
Please enter your name here

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.

- Advertisement -spot_img

ÚLTIMAS NOTÍCIAS