A luta das mulheres pela igualdade de gênero no mercado de trabalho alcançou resultados significativos nos últimos anos, mas ainda enfrenta dificuldades. Mesmo diante de dificuldades, as lideranças femininas em grandes empresas são uma realidade no Brasil. Um exemplo é a diretora de People e Performance da Kraft Heinz Brasil (empresa detentora das marcas Heinz, Quero, entre outras), Carol Dias.
Carol Dias, 35 anos, iniciou sua carreira em 2010 na área de RH (Relações Humanas) aplicando os conhecimentos da sua graduação em Psicologia, com o objetivo de otimizar o potencial das pessoas e das organizações.
“Minha jornada foi marcada por desafios, notadamente por ser mulher e, frequentemente, a mais jovem, inserida em um ambiente predominantemente masculino. Essa realidade exigiu que eu desenvolvesse uma postura assertiva desde, não apenas em questões relativas ao RH, minha área de especialização, mas também nas discussões estratégicas de negócios“, disse em entrevista ao Poder360.
Carol Dias afirmou que um dos principais aspectos que contribuíram para seu desenvolvimento profissional e pessoal foram os feedbacks e o auxílio de mentoras em sua vida.
“Uma das minhas principais recomendações é que cada pessoa busque e construa uma rede de apoio sólida. Para mim, contar com mulheres que me inspiraram e me guiaram foi fundamental para o meu desenvolvimento pessoal e profissional”, declarou a diretora.
Divulgação/Kraft Heinz
A diretora de People e Performance da Kraft Heinz, Carol Dias
Além da importância de construir redes de apoio em sua profissão, Carol Dias destacou que ao manter posturas de resiliência e autenticidade descobriu importantes aliadas ao longo de sua carreira no ambiente corporativo.
“Ao longo dos anos aprendi que, embora existam desafios específicos em um ambiente mais masculino, a chave para o sucesso está em abraçar minha identidade e contribuir com minha perspectiva única. A diversidade de pensamento e experiência, em minha visão, é uma grande fortaleza”, disse.
Durante sua trajetória, Carol Dias encontrou dificuldades para se afirmar e precisou se esforçar mais pelo fato de ser mulher em ambientes com predominância masculina. Mesmo com obstáculos, a diretora disse que sempre focou no seu valor como profissional.
“Sempre procurei focar nas minhas competências e no valor que posso agregar às companhias por onde passei. No entanto, reconheço que como mulher, em alguns momentos, foi necessário demonstrar ainda mais resiliência e assertividade para garantir que minha voz fosse ouvida de maneira equitativa”, declarou Carol Dias.
Porém, ao assumir um alto cargo na Kraft Heinz, a executiva encontrou um ambiente acolhedor e que preza para que a diversidade não seja apenas um discurso, mas uma prática no dia a dia entre seus colaboradores. De acordo com ela, “a diversidade não deve ser vista como uma questão ética, mas sim como um motor para a inovação”.
Outro exemplo de sucesso foi a empreendedora e dona das franquias da CNA Idiomas nas cidades de Sorriso e Sinop, no Mato Grosso, Edna Borges, de 61 anos. Formada em Letras e pós-graduada em Didática, Edna iniciou sua trajetória no setor educacional em Sorriso em 1999. Para ela, “o ensino de idiomas é mais do que uma paixão, e sim uma forma poderosa de transformar vidas”.
De acordo com Edna Borges, no início de sua carreira enfrentou dificuldades para conquistar a confiança da comunidade e promover seus cursos de inglês. Ela conta que pelo fato da cidade de Sorriso ser pequena, buscou formas mais eficientes de atrair alunos para os cursos.
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A dona das franquias da CNA Idiomas e empreendedora, Edna Borges
“Como a cidade era pequena, percebi que precisava de um trabalho mais ativo para atrair os alunos. Por isso, comecei a ir de porta em porta, visitando potenciais clientes para apresentar nossos cursos e explicar os benefícios do aprendizado de uma língua estrangeira”, disse Edna Borges.
Suas experiências anteriores no setor de varejo capacitaram a empreendedora e fizeram com que adquirisse um conhecimento na arte das vendas. Dessa forma, Edna viu como uma grande vantagem na busca por alunos.
“Minha experiência anterior no setor de varejo foi fundamental para esse processo. Eu já estava acostumada a realizar vendas de maneira direta, de porta em porta, e soube como aplicar esse conhecimento no setor educacional”, disse.
Sua visão empreendedora também a levou a expandir e investir no ensino de tecnologia ao abrir duas unidades da Ctrl+Play, escola de programação e robótica.
Mulheres Ainda Ganham Menos que Homens
Dados do Ministério das Mulheres e do Ministério do Trabalho e Emprego mostram que as mulheres recebem 19,4% menos do que homens para exercer as mesmas funções. Já para os cargos de gerência e liderança, essa diferença pode chegar até 25,2%.
A advogada Angélica Petian, especialista em gestão corporativa do escritório Vernalha & Pereira, diz que “há a necessidade de as empresas assumirem o compromisso de criarem ambientes de trabalho inclusivos para as mulheres”.
Para Petian, a implementação de programas de mentoria para mulheres, junto com políticas de diversidade e canais de denúncia eficazes, são essenciais para o combate das desigualdades e ampliação das oportunidades para o público feminino.
Assista na íntegra a entrevista com a Dra Angélica Petian:
Brasil X Desigualdade de Gênero
Todos os anos, o Fórum Econômico Mundial publica o Global Gender Gap Report utilizado para avaliar a igualdade de gênero entre os países. Seu objetivo é identificar as disparidades entre homens e mulheres em diferentes áreas, como na participação econômica, acesso à saúde e educação e participação política.
Segundo o último relatório (íntegra), publicado em junho de 2024, o Brasil ficou na 70º posição em uma escala de 146 países, com uma queda em relação ao ano de 2023, quando o país estava no 57º lugar.
Além disso, a paridade de gênero em oportunidades e participação econômica global será alcançada em 267,6 anos, caso o ritmo de progresso atual se mantenha. No caso do Brasil, essa paridade total tende a ser alcançada em 134 anos, de acordo com o relatório.
Nesse documento também foi registrado que a região da América Latina e Caribe está na 3ª posição em relação a paridade de gênero, atrás da Europa e da América do Norte. A região atingiu o seu maior índice percentual desde 2006, reduzindo sua diferença global em 8,3 pontos percentuais.
Diante desse cenário, Carol Dias disse que a disparidade de gênero presente no mercado de trabalho pode interferir de maneira significativa no psicológico de mulheres que buscam se inserir no ambiente empresarial.
Ao longo de sua carreira, ela diz ter sido testemunha de casos de mulheres que foram afetadas por essa problemática, e que poderiam ter alcançado grandes realizações. Já Edna Borges declarou, em contrapartida, que se sente segura e acolhida atuando no setor de franquias e que sua empresa trabalha ativamente o respeito entre os gêneros.
“Sinto que é um setor respeitoso e com ética. No CNA, por exemplo, a marca trabalha ativamente o respeito entre os gêneros, e considero isso um dos seus valores mais importantes e fundamentais em qualquer ambiente, disse a empreendedora”, declarou a empreendedora.
Legado Para Futuras Gerações
De acordo com a diretora de People & Performance da Kraft Heinz, Carol Dias, “o futuro das mulheres no mercado corporativo é promissor, mas ainda há muito trabalho a ser feito para garantir que as conquistas sejam verdadeiramente equitativas”.
Além disso, a diretora deseja que, nos próximos anos, as mulheres não só ocupem espaços no mercado de trabalho, mas também recebam oportunidades justas, visando o seu desenvolvimento e crescimento profissional.
Carol Dias declarou que quer deixar um legado para as próximas gerações e que a sua trajetória seja um exemplo de que a liderança feminina é essencial.
“Quero ser lembrada por ter ajudado a abrir portas para outras mulheres, especialmente aquelas que, por diferentes motivos, têm menos acesso a oportunidades. Quero que minha trajetória seja um exemplo de que a liderança feminina é essencial, que nossa visão e nossas capacidades são tão valiosas quanto as de qualquer outra pessoa”, disse a diretora.
Já a empreendedora Edna Borges quer impactar a sua comunidade incluindo, sua escola de idiomas, seus colegas e alunos. Ela também prevê um cenário melhor para as mulheres no ramo do empreendedorismo, superando as desigualdades de gênero.
Esta reportagem foi produzida pelos trainees do Poder360 Gabriel Romeiro e Juliana Berlinck sob a supervisão da secretária de Redação adjunta, Sabrina Freire.