O maior desconforto para o analista econômico é lidar com os limites da capacidade produtiva de uma economia. Os limites ocorrem quando a utilização da capacidade na indústria é maior do que a normal de longo prazo e quando a taxa de desemprego é menor do que a taxa de desemprego que não acelera a inflação.
Estimar esses parâmetros, que não são diretamente observáveis, é difícil e está sujeito a todo tipo de polêmica e discordância.
É comum analistas acreditarem que a máxima utilização da capacidade instalada é de três turnos de oito horas por dia, sete dias na semana e 52 semanas por ano. Essa é a limitação física. Pergunto ao leitor: sua cama, usada oito horas por dia, está desocupada nas demais horas do dia? O pleno emprego envolve um cálculo econômico do proprietário do meio de produção. A plena utilização econômica dos fatores de produção é menor (em geral, bem menor) do que o limite físico de utilização.
Há uma relação direta entre a economia operar além da capacidade e a inflação. Apesar de direta, a relação é cheia de névoas pois outros fatores —como choques de alimentos e variações do câmbio—impactam os preços.
A relação é mais direta entre a economia operar além dos limites da capacidade ou operar com excesso de demanda sobre a oferta e a inflação de serviços, que não é (normalmente) diretamente afetada por choques de alimentos e cambiais. Adicionalmente, quando a economia opera além da capacidade produtiva, as exportações líquidas (exportações menos importações) se reduzem.
Folha Mercado
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É comum por aqui, em razão do enorme peso que os economistas heterodoxos têm na academia brasileira, argumentar que a forma de enfrentar uma situação de excesso de demanda sobre a oferta é estimular a oferta por meio de mais investimento.
Esse caminho foi tentado inúmeras vezes no Brasil desde os anos 1950. Sempre resultou em forte aceleração da inflação. O motivo é que o investimento somente aumenta a oferta com elevada defasagem no tempo. Antes de sensibilizar a oferta, o investimento aumenta a demanda. Uma empresa, ao investir na construção de um novo galpão, por exemplo, terá de construir o galpão. Enquanto o galpão não estiver pronto, todos os gastos feitos na construção do galpão aumentam a demanda.
O problema é que a inflação tem inércia. Uma vez elevada, é muito difícil reduzi-la. O leitor deve se lembrar da grande crise brasileira de 2014 até 2016. A crise se agravou no primeiro trimestre de 2015. No final de 2014, a inflação de serviços rodava a 8%, com forte inércia: desde o início de 2011, o núcleo de serviços, os serviços subjacentes, rodava acima de 8% ao ano. A queda dos serviços somente ocorreu após vários trimestres com o desemprego se elevando.
Assim, quando o Banco Central eleva a taxa de juros, pois a economia opera com excesso de procura sobre a oferta, o objetivo é reduzir o crescimento econômico, elevar a taxa de desemprego e diminuir o nível de utilização da indústria. Se o governo conseguir produzir uma redução do gasto público, ajudará o BC a reduzir a demanda, e, consequentemente, a elevação dos juros será menor.
Os alunos de economia são apresentados a esses princípios básicos já no curso de introdução à economia no primeiro ano. Não há o que inventar aqui. Mas, de fato, a limitação de recursos é bem desconfortável.
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