Há 49 anos, em janeiro de 1976, a repórter de uma revista perguntou a Fernanda Torres, filha de Fernanda Montenegro e Fernando Torres: “O que você quer ser quando crescer?”. A pergunta fazia sentido: Fernanda tinha 10 anos.
“As meninas da minha idade querem trabalhar na televisão, porque acham bonito. Eu não”, ela respondeu. “Eu gosto mesmo é de teatro, e sei muito bem como é. Assisto sempre aos ensaios da mamãe, fico um tempão vendo todo mundo decorando os papéis. E nunca me chateio. Também faço teatrinho no colégio, nas aulas de criatividade. Mas não gosto de teatro infantil, por isso só vou ser atriz quando crescer.”
A repórter era Christina Lyra e a revista era a Domingo, a primeira semanal colorida em formato revista a circular dentro de um jornal no Brasil, no caso o Jornal do Brasil. A pergunta surgira na primeira reunião de criação da revista, que começaria a circular dali a três meses. Dessa reunião, quase uns sobre os outros na minúscula salinha que nos fora destinada pelo jornal, faziam parte o diretor Isaac Piltcher, os redatores Marcos Santarrita e Sergio Ryff, as repórteres Cleusa Maria e Christina Lyra e o editor-executivo, por acaso eu.
Um de nós teve a ideia de fazer aquela pergunta a algumas crianças, ideia certamente roubada da americana Esquire, nossa secreta inspiração. Tudo bem, mas quais? Horas depois, decidimos pelos filhos ou netos de gente conhecida —Zagallo, Marcia Kubitschek, Chico Anysio, o senador Gustavo Capanema e os queridos Fernandos. O pulo do gato era fazer a mesma pergunta a um menino de comunidade, filho de um trabalhador anônimo. Christina foi a repórter destacada para conversar com as crianças. A matéria saiu no nº 1 da Domingo, com data de 11 de abril.
Não sei se os outros fizeram jus às suas aspirações. Fernanda Torres, grande vencedora do Globo de Ouro, sim. E com o detalhe de um espantoso requinte. À pergunta de Christina sobre se gostava também de cinema, disse “Claro!” e acrescentou: “Sabe, eu adoro filme de mistério e espionagem.” Bem, quer mais mistério e espionagem do que em “Ainda Estou Aqui”?