Foi no dia 1 de setembro de 2024, faz esta terça-feira 24 dias, que o Benfica ficou sem treinador. Repito, 24 dias.
Quatro dias depois, a 5 de setembro, Bruno Lage era apresentado como sucessor do técnico alemão. Passaram-se, até hoje, 19 dias.
Em 19 dias, Lage orientou as águias em três jogos. Saldam-se vitórias frente ao Santa Clara, por 4-1, Estrela Vermelha por 2-1 e Boavista, esta segunda-feira, por 3-0. Cumprida a matemática, que entre em cena a filosofia.
A efemeridade com que é vivido o futebol, pródigo em descartar treinadores à mesma velocidade com que os endeusa, tornou-se por demais evidente na deslocação do Benfica ao Bessa.
Há 19 dias, para os adeptos encarnados, a equipa estava mergulhada numa crise profunda, cujos problemas eram encarados como uma inevitável fatalidade. 19 dias depois, como tive oportunidade de ir ouvindo no final do jogo no Bessa, esta equipa vai longe. É a beleza do desporto rei, em todo o seu esplendor. E enquanto se ganha, o passado é apenas isso: passado. Roger quê?
Depressa e bem? Há quem
O Benfica que se apresentou no Bessa é, de facto, outro Benfica. A ‘camisola berrante’ desfilou serena e alegre, com tanta pressa para marcar como para defender. Até Di María mereceu um aplauso lá pelo meio, quando travou, lá atrás, um ataque dos axadrezados. Sim, coisa rara.
Pressionante, rápida a trocar a bola e sempre de olhos postos na baliza adversária, a equipa encarnada cedo pôs em prática o que se perspetivava em teoria.
Absolutamente descaracterizado, vítima das limitações impostas pela UEFA na contratação de jogadores e das lesões inesperadas (dois guarda-redes K.O no mesmo treino é, no mínimo, um enorme azar), o Boavista fez o que pôde. Mas o que tinha para oferecer era claramente insuficiente para ombrear com este Benfica. Forçado a recorrer a muitos jovens da formação – o guarda-redes Tomé, de 17 anos , é o pináculo dessa penosa condição – Cristiano Bacci pôde adivinhar logo bem cedo o destino da sua equipa frente ao Benfica.
Um destino que facilmente é transponível para o final da época. Estranho seria provar-se o contrário, a avaliar pela tarefa hercúlea com que se depara o emblema campeão nacional na época 2000-2001.
Di María, Akturkoglu e Pavlidis passeavam endiabrados nos primeiros minutos do encontro, mas foram o turco e o grego, já depois do brilho do espanhol Álvaro Carreras, a inventar o primeiro golo. O último reforço das águias no mercado de verão já tinha recebido a bola do lateral espanhol quando ele próprio criou uma oportunidade clara de golo para Pavlidis, que só teve de encostar ao primeiro poste. Trabalho excecional do avançado turco, que apesar de terminar a noite em branco viria a ser, indiscutivelmente, um dos melhores da partida.
O Benfica chegava com naturalidade à vantagem, aos 11 minutos, já depois de várias incursões no interior da área axadrezada. Apesar da área da pantera se ter tornado o habitat de eleição da águia, foi lá do longe que Kokçu pontapeou quase em definitivo a crise gerada há 24 dias, quando aquele senhor alemão se despediu da Luz – Roger quê?
O médio turco soma já três golos esta época e vai dando razão a si mesmo, depois de na última época ter acusado o antigo técnico de não o o colocar a jogar onde se sentia melhor. Não entendeu o alemão, entendeu Lage. 2-0 aos 31 minutos e a certeza de que este Benfica é outro, porque Kokçu também o é.
Com o habitual 4-2-3-1, desta vez com Ausrnes no meio-campo – meio natural do norueguês, dispensado de pisar terrenos que lhe são pouco familiares -, a mobilidade concedida a Kokçu, a deambular por onde bem lhe apetecesse, ia oferecendo várias escapatórias a Pavlidis e Akturkoglu. Lá atrás, Tomás Araújo fez esquecer o lesionado Alexander Bah, mostrando-se peça integrante de uma defesa compacta, segura e mais confiante. Até Otamendi, capitão de equipa, abdicou de erros infantis, como os que tem praticado incompreensivelmente nas últimas partidas. Quase tudo correu bem frente ao Boavista, que em sentido inverso regressa às derrotas após dois empates. Vitórias? Só uma, diante do Casa Pia, no jogo inaugural. Não vence há cinco jogos, daí o atual 15.º lugar.
A segunda parte resume-se à gestão inteligente do resultado por parte das águias, raramente colocada à prova. Oportunidades houve, mas quase sempre para o mesmo lado. Destaque, por exemplo, para a tentativa falhada de chapéu a Tomé Silva por Akturkoglu.
Com o jogo a caminhar para o fim, Arthur Cabral ainda tinha algo a dizer. E precisou apenas de quatro minutos para o fazer. Entrou aos 88, marcou aos 91. O avançado celebrou como se tivesse protagonizado o golo da vitória. Não foi caso disso, mas talvez o facto de andar arrestado do onze inicial tenha levado a que o festejo mais emocional soasse a um grito de revolta, que traduzindo em palavras soaria a algo assim: ‘Mister, estou aqui. Estou pronto. Confie e não se esqueça de mim’. Não será tarefa fácil para o brasileiro, que na fila tem à sua frente um turco e um grego, até ver insaciáveis.
Três jogos, três vitórias. E o fator Lage mantém-se de pé. 13 pontos, terceiro lugar. A dois do FC Porto, segundo, a cinco do Sporting, primeiro. O Benfica está a ganhar, a jogar melhor e recuperar a sempre débil confiança dos adeptos. Roger quê?
O momento
O golo madrugador de Pavlidis. Para uma equipa com fome de confiança, nada como abrir o apetite logo aos 11 minutos. A entrada fulgurante do Benfica não foi por acaso. Queriam as águias entrar de rompante. E se o objetivo era marcar cedo, este golo veio dar razão à estratégia. Os encarnados ficaram ainda mais empolgados – a mancha vermelha no Bessa também ajudou – mas o golo inaugural serviu também de espanta fantasmas. Roger quê?
O destaque
Kokçu. Podia ser Akturkoglu? Podia. Podia ser Pavlidis? Podia. Podia ser Carreras? Podia. Mas é Kokçu o destaque da noite por um simples motivo. Porque é por ele que todos os outros podiam ser os destaques. O médio turco chegou à Luz carregado de expetativas – foi a mais cara contratação até então – mas o desentendimento com Schmidt, que por sua culpa se tornou público, veio travar a ascensão do internacional no Benfica. O adeus ao técnico alemão, ou se preferir, a chegada de Lage, trouxe à ribalta as maiores valias de Kokçu. No miolo, ligeiramente descaído à esquerda e sempre disposto a servir os colegas com a sua elegante capacidade de passe. No Bessa, Kokçu começou algo precipitado – tem dois passo falhados nos primeiros minutos – mas o golo estabilizou também o seu jogo. Foi preponderante no equilíbrio de jogo das águias e assume-se, cada vez mais, como uma peça estruturante deste novo Benfica.
As reações
Bruno Lage: “Foi uma entrada muito forte da nossa parte. Esse era o nosso plano. Sem mudar o chip, entrámos muito bem, jogámos como equipa, só assim podíamos vencer aqui. Fico muito satisfeito pela exibição, pela entrada, pela personalidade e por termos jogado em equipa. Jogar com talento e com gente a trabalhar pela equipa”
Cristiano Bacci: “Tentámos pressionar em cima, não ficámos à espera deles, não temos medo de pressionar. A equipa reagiu bem aos golos, mas se calhar foi demasiado o terceiro golo, a equipa não merecia. Resultado pesado? Acho que sim”