ACC 2024: Semaglutida em pacientes diabéticos com ICFEp e obesidade

A obesidade e o diabetes tipo 2 são prevalentes em pacientes com insuficiência cardíaca com fração de ejeção preservada (ICFEP), caracterizados por uma alta carga de sintomas. Não há terapias aprovadas especificamente direcionadas para a insuficiência cardíaca relacionada à obesidade com fração de ejeção preservada em pessoas com diabetes tipo 2.  

Apresentado no congresso do American College of Cardiology (ACC 2024), o estudo STEP-HFpEF DM randomizou pacientes com ICFEP, índice de massa corporal (IMC) ≥30 e diabetes tipo 2 para receber semaglutida semanal (2,4 mg) ou placebo por 52 semanas.

Os principais desfechos foram a mudança na pontuação de resumo clínico do Questionário de Cardiomiopatia de Kansas City (KCCQ-CSS; pontuações variam de 0 a 100, com pontuações mais altas indicando menos sintomas e limitações físicas) e a mudança no peso corporal. Os desfechos secundários confirmatórios incluíram a mudança na distância de caminhada de seis minutos, um composto hierárquico incluindo morte, eventos de insuficiência cardíaca e diferenças na mudança do KCCQ-CSS e distância de caminhada de seis minutos, e a mudança no nível de proteína C reativa (PCR). 

Quais foram os principais resultados? 

Foram incluídos 616 indivíduos (mediana de idade 69 anos, 44,3% eram do sexo feminino, peso mediano de 102,7 kg e IMC de 36,9 kg/m2). A mudança média no KCCQ-CSS foi 13,7 pontos com semaglutida e 6,4 pontos com placebo (diferença 7,3 pontos; P<0,001), e a mudança percentual média no peso corporal foi −9,8% com semaglutida e −3,4% com placebo (diferença −6,4%; P<0,001).  

Os resultados para os desfechos secundários confirmatórios favoreceram semaglutida sobre placebo.  

A semaglutida foi segura neste cenário? 

Sim! Os eventos adversos graves foram significativamente menores no grupo da semaglutida (17,7%) em comparação com o grupo placebo (28,8%), sugerindo um perfil de segurança muito favorável neste contexto específico. 

Uma proporção semelhante de participantes em ambos os grupos descontinuou o tratamento devido a qualquer evento adverso, sendo 10,6% no grupo da semaglutida e 8,2% no grupo placebo.  

A semaglutida foi capaz melhorar o controle glicêmico sem aumentar o risco de hipoglicemia significativa, um aspecto importante no manejo de pacientes com diabetes tipo 2. 

Interessantemente, os eventos cardíacos foram significativamente menos frequentes no grupo da semaglutida em comparação com o grupo placebo, indicando o potencial benefício cardiovascular da semaglutida nesta população. 

Perspectivas 

Os resultados são consistentes e estendem os benefícios clínicos da semaglutida, com um perfil de segurança favorável, para uma ampla população de pacientes com insuficiência cardíaca relacionada à obesidade com fração de ejeção preservada e diabetes tipo 2. 

Os efeitos da semaglutida sobre os resultados relacionados à insuficiência cardíaca foram observados apesar da perda de peso ser aproximadamente 40% menor do que em pacientes sem diabetes, indicando potenciais efeitos diretos na descompressão e na função cardíaca e vascular. 

Esses resultados também vão ao encontro do estudo STEP-HFpEF, previamente publicado, e expandem o entendimento sobre o potencial terapêutico da semaglutida em populações mais amplas com ICFEP. Ambos demonstraram que a semaglutida proporcionou melhorias significativas nos sintomas e nas limitações físicas relacionadas à insuficiência cardíaca, como evidenciado pelas mudanças nos escores do Questionário de Cardiomiopatia de Kansas City (KCCQ-CSS), além do da perda de peso significativa.  

Além disso, o STEP-HFpEF DM mostrou que a semaglutida é eficaz em melhorar os desfechos relacionados à insuficiência cardíaca tanto em pacientes que já estão recebendo inibidores SGLT2 quanto naqueles que não estão. Os inibidores SGLT2 são reconhecidos por seus benefícios na ICFEP, incluindo a redução de hospitalizações por insuficiência cardíaca e morte cardiovascular. A capacidade da semaglutida de oferecer benefícios adicionais em pacientes já em tratamento com esses medicamentos sugere que ela pode ter uma perspectiva importante no tratamento desses pacientes, possivelmente atuando através de mecanismos complementares. 

Quais as limitações desse estudo? 

O estudo foi desenhado para avaliar os efeitos da semaglutida sobre sintomas, limitações físicas e capacidade de exercício (desfechos substitutos), e não foi otimizado para avaliar eventos clínicos, como hospitalizações ou morte cardiovascular. Além disso, a duração do seguimento foi limitada a 1 ano, não permitindo aferir a durabilidade dos efeitos da semaglutida além deste período. 

Conclusões

Entre pacientes com ICFEP relacionada à obesidade e diabetes tipo 2, a semaglutida reduziu sintomas e aas limitações físicas relacionados à insuficiência cardíaca, além de induzir maior perda de peso do que placebo após um ano. 

Veja aqui todos os destaques da nossa cobertura do ACC 2024!

Confira também o Instagram e o site da Afya CardioPapers para mais informações sobre a edição deste ano do congresso do American College of Cardiology.

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