Disruptores endócrinos e seus efeitos na saúde humana

A poluição em seus diversos âmbitos tais como poluição do ar, da água e derivada de produtos químicos está sendo responsável por um aumento da taxa de mortalidade de maneira global e prematura.  

A poluição química é impulsionada para a extração, produção e uso de combustíveis fósseis tais como carvão, petróleo e gás. Tais combustíveis são também responsáveis pela maioria das alterações climáticas vivenciadas nos últimos tempos, sendo que muitos deles também interferem no funcionamento do nosso sistema endócrino. 

Baseado nesse tema de grande relevância, a The New England Journal of Medicine publicou, recentemente, uma revisão sobre os efeitos na saúde humana dos disruptores endócrinos químicos derivados de combustíveis fósseis. Segue abaixo um resumo dela. 

intoxicação por agrotóxicos

Disruptor endócrino químico: está familiarizado com o conceito?

Um disruptor endócrino químico (EDC) é um produto químico exógeno ou uma mistura de produtos químicos que interfere em qualquer aspecto da ação hormonal. Eles podem atuar através de múltiplos mecanismos, incluindo interferência nos receptores hormonais; alteração de síntese, distribuição, circulação e metabolismo; induzindo mudanças epigenéticas e alterando a expressão ou transporte do receptor hormonal através das membranas celulares.  

Os EDCs estão presentes em muitos produtos do nosso dia a dia tais como: plásticos, materiais de construção, brinquedos, tecidos, corantes, detergentes, cosméticos e pesticidas. A exposição a eles tem sido associada a efeitos adversos na saúde humana tais como: câncer (exemplo: mama, próstata e testículo), prejuízo no neurodesenvolvimento infantil (redução de QI e transtorno do déficit de atenção e hiperatividade), desordens metabólicas (obesidade e diabetes) e infertilidade (prejuízo do desenvolvimento ovariano e redução da qualidade do esperma). O risco aparenta ser maior quando a exposição ocorre no período fetal e na primeira infância. 

Os EDCs contaminam o abastecimento de alimentos a partir de várias fontes, incluindo práticas de produção (ex: uso de pesticidas agrícolas), processamento (ex: lixiviação de produtos químicos como BPA, ftalatos e PFAS de plástico no processamento de alimentos e equipamentos) e empacotamento (ex: plásticos e tintas e papelão derivados de petroquímica e revestimentos de alimentos enlatados) com contaminação indireta de poluentes de combustíveis fósseis no meio ambiente. 

Componentes químicos comuns

Ademais, produtos de higiene pessoal e limpeza normalmente incluem EDCs, como PFAS, ftalatos, parabenos, nonilfenóis e triclosan que podem ser identificados individualmente no rótulo ou disfarçados com a categoria de “fragrância”. Retardadores de chama, PFAS e ftalatos são comumente encontrados em materiais de construção e materiais artificiais como grama, tapetes, tecidos resistentes a manchas, pisos, armários, materiais de isolamento, espuma para móveis, computadores e outros eletrônicos. Sendo assim, a contaminação é bastante extensa e pesquisadores acreditam que não exista um “nível livre de risco” da exposição a estes produtos químicos em toda a população. 

O grande desafio para reduzir a exposição aos EDCs prejudiciais à saúde é a falta de requisitos legais para testes de segurança abrangentes serem realizados antes dos produtos químicos serem comercializados. Além disso, a legislação de muitos países também é falha, pois não há leis suficientes que proíbam a produção, venda e consumo de tais produtos.  

Sendo assim, ocorre um “boom” de exposição aos EDCs que foge ao controle a nível individual e global. 

Indicações de ações

A população pode reduzir a exposição a alguns EDCs por meio de ações individuais, porém tais medidas isoladas, infelizmente, não são suficientes. Profissionais de saúde têm um papel importante na defesa de uma legislação para reduzir exposições químicas, especialmente entre subgrupos mais susceptíveis. 

Conclusão e mensagem prática

Por fim, é imprescindível que ocorram alterações políticas a nível estadual e federal, através de legislação e regulamentação, visando aumentar a transparência, reduzir sistematicamente as exposições químicas prejudiciais, melhorar a saúde humana e ambiental e, por fim, proteger as comunidades mais afetadas. Apenas com ações coletivas, poderemos ter algum mínimo de sucesso na redução à exposição e aos efeitos dos EDCs. 

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Autor

Médica graduada pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ)
Residência de Endocrinologia e Metabologia pela Universidade Federal Fluminense (UFF)
Residência de Clínica Médica pelo Hospital Federal dos Servidores do Estado (HFSE)

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