As arboviroses compreendem um conjunto de doenças virais transmitidas por insetos e aracnídeos. Estima-se que cerca de 39% de todos os vírus patogênicos descobertos em seres humanos pertençam à categoria dos arbovírus.
Nos últimos anos, tem-se observado um aumento nos casos de arboviroses, com registros de epidemias de doenças já conhecidas e de doenças emergentes. A possibilidade da ocorrência de forma concomitante da circulação de mais de uma arbovirose pode levar a dificuldades de diagnóstico, visto a semelhança dos sintomas e as limitações dos testes diagnósticos.
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O ano de 2024 no Brasil, está sendo marcado por um número expressivo de casos de dengue em vários estados, já ultrapassando o número total de casos registrados em 2023. Ao mesmo tempo, a região Amazônica identificou mais de mil de casos de febre do Oropouche nos estados do Acre, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima e com um caso confirmado no Rio de Janeiro.
Nesse contexto complexo, é importante conhecer mais sobre as doenças, assim como sobre suas semelhanças e diferenças.
Febre do Oropuche
A febre do Oropouche é causada pelo vírus Oropouche (OROV), um vírus de RNA fita simples pertencente ao gênero Orthobunyavirus e família Peribunyaviridae. A transmissão se dá por mosquitos das espécies Culicoides paraenses, tanto no ciclo silvestre quanto o ciclo urbano, mas outros vetores podem participar do ciclo de transmissão.
Informações sobre o quadro clínico são baseadas principalmente em relatos de caso e descrições de surtos. Por esse motivo, a mortalidade e a morbidade da doença podem estar subestimadas.
Casos de febre do Oropouche costumam ser leves e autolimitados, com um período de incubação de três a dez dias. Os sintomas iniciais são inespecíficos e incluem cefaleia, mialgia, artralgia, náuseas, vômitos, calafrios e fotofobia. De forma menos frequente, podem ocorrer rash, dor retro-orbital, anorexia e manifestações hemorrágicas. Em alguns casos, pode haver comprometimento de sistema nervoso central, na forma de meningoencefalite ou meningite asséptica.
Tipicamente, a doença apresenta um curso bifásico, com uma fase aguda inicial com duração de dois a quatro dias, que é seguida por um período de remissão e ressurgimento dos sintomas sete a dez dias após o início do quadro. A maioria dos indivíduos infectados recupera-se sem sequelas, mas casos em que mialgia e astenia persistiram por até um mês já foram relatados. Até o momento, não foram relatados óbitos decorrentes da doença.
Coinfecções com outros arbovírus já foram descritas, incluindo com dengue, mas sua repercussão clínica na gravidade ainda é incerta.
Diagnóstico
O diagnóstico de febre de Oropouche é clínico, epidemiológico e laboratorial. Entretanto, os sinais e sintomas são muito semelhantes aos de outras arboviroses. Por esse motivo, o diagnóstico laboratorial ganha importância tanto no manejo clínico quanto no contexto de vigilância e caracterização epidemiológica. Diagnósticos diferenciais importantes incluem dengue, zika e chikungunya.
A caracterização da etiologia pode ser realizada por métodos moleculares ou sorológicos. A detecção molecular pela técnica de RT-PCR é possível durante a primeira semana. Para a detecção sorológica, o diagnóstico pode ser feito pela identificação de anticorpos IgM ou pela detecção de soroconversão por meio de amostras pareadas.
Atualmente, a vigilância em áreas consideradas endêmicas é passiva, desencadeada a partir da detecção laboratorial do vírus, do genoma viral ou de anticorpos IgM. Há previsão de ampliação da vigilância para áreas não endêmicas, com foco na detecção de casos importados em indivíduos com quadro clínico compatível e que residam ou tenham viajado para áreas endêmicas.
A febre de Oropouche é uma doença de notificação obrigatória e imediata, com todos os casos confirmados devendo ser notificados para as autoridades de vigilância. A notificação deve ser realizada por meio do preenchimento da Ficha de Notificação/Conclusão do Sinan.
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Manejo
Não existe tratamento específico para infecções por OROV e o manejo consiste principalmente em controle sintomático. Da mesma forma, não existe vacina e as medidas preventivas indicadas são as mesmas aplicadas a outras doenças que possuem mosquitos como vetores, a saber, uso de roupas que cubram a maior parte do corpo e de repelentes em áreas expostas da pele e a remoção de possíveis criadouros domésticos de mosquitos.
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Autor
Infectologista pelo Hospital Universitário Clementino Fraga Filho (UFRJ) ⦁ Graduação em Medicina na Universidade Federal do Rio de Janeiro
- CNN Brasil. Casos de dengue começam a “desacelerar”, diz Ministério da Saúde. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/nacional/casos-de-dengue-comecam-a-desacelerar-diz-ministerio-da-saude/
- :~:text=Pelos%20dados%20do%20Minist%C3%A9rio%2C%20em,%2C%20Par%C3%A1%2C%20Rond%C3%B4nia%20e%20Roraima.
https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/f/febre-do-oropouche.
Emergence of Oropouche fever in Latin America: a narrative review. Lancet Infect Dis. 2024 Jan 25:S1473-3099(23)00740-5. DOI: 10.1016/S1473-3099(23)00740-5.