Propagação e pontos de atenção sobre o vírus chikungunya

O vírus chikungunya (CHIKV) foi responsável por surtos e epidemias recentes em diversas regiões da Europa e Américas, inclusive no Brasil, até se tornar endêmico. O CHIKV, transmitido por mosquitos, está associado a quadros de artralgia grave e debilitante, frequentemente crônicos, apresentando significativa repercussão em populações, inclusive econômica.

imagem digital do vírus chikungunya

Apesar de inicialmente descrito na década de 1950 na Tanzânia, África, emergiu com grandes epidemias a partir de 2007 quando iniciou ciclos urbanos no Velho Continente, Pacífico Sul e nas Américas. Mas como explicar essas emergências que ocorrem com alguns vírus em alguns períodos da história? Como ocorreu com o CHIKV?

O CHIKV consiste em um alfavirus da família Togaviridae transmitido por mosquitos, assumindo um caráter zoonótico e enzoótico ao envolver vetores e primatas não humanos. As duas grandes linhagens descritas (i) Oeste africano e (ii) Leste/Central/Sul africano – ECSA (a qual originou a linhagem asiática, considerada urbana, e a índia-oceânica) foram inicialmente disseminadas para a Ásia e Américas durante as navegações entre 1879 e 1956, mesmo mecanismo de distribuição da febre amarela e dengue em cidades portuárias.

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Propagação

Apesar dessa propagação antiga, e talvez devido também ao aprimoramento de métodos diagnósticos, os surtos por CHIKV só começaram a ser descritos em 2004, com a explosão de casos facilitada pela mobilidade em viagens aéreas (tanto de humanos quanto de mosquitos vetores), levando esses vírus para áreas urbanas de novas regiões geográficas e ao acometimento de suscetíveis.

Considera-se que a introdução da linhagem asiática nas Américas ocorreu em 2013. Uma das razões que permitiu o fenômeno de explosão de casos de infecção por CHIKV em várias localidades está relacionada com as substituições na estrutura da glicoproteína E2 do envelope viral, a qual permitiu a transmissão do vírus por um novo vetor, o Aedes albopictus.

Adicionalmente, outros fatores especialmente observados em relação ao CHIKV consistem no papel da mobilidade global de indivíduos, o que resultou na circulação de cepas asiáticas nas Américas, a circulação de cepas africanas no Brasil em 2015, e a possibilidade adaptativa para a estabilidade endêmica devido ao ciclo enzoótico entre vetores silvestres e primatas, agora em novo território. Tais fenômenos ampliam as previsões quanto ao surgimento de novas cepas com genótipo modificado (mutações), que podem vir a causar novos surtos e epidemias, assim como novas manifestações clínicas, em populações suscetíveis.

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Pontos de atenção

Portanto, tomando como exemplo o CHIKV, alguns fatores parecem ser determinantes na emergência de inúmeros casos em vírus disseminados por mosquitos vetores:

  • O ciclo enzoótico permite a manutenção de linhagens de CHIKV em regiões silvestres, e permite a ampliação de hospedeiros e surgimento de novas linhagens por mutações ao longo dos anos;
  • Primatas não humanos e outros vertebrados participam da manutenção enzoótica, e diferentes espécies de Aedes app. complementam a potencial de amplitude de linhagens novas que emergem a partir do ciclo enzoótico;
  • Recentes mutações na estrutura viral do CHIKV permitiram a adaptação ao A. albopictus, o que amplificou a potencialidade de transmissão para além do vetor tradicional Aedes aegypti;
  • Primatas não humanos mimetizam hospedeiros humanos e permitem a evolução de novas linhagens virais com propriedades biológicas adaptativas;
  • Os ciclos urbanos podem ser temporários e independentes do ciclo enzoótico;
  • Humanos que residem perto ou entram em florestas africanas são infectados e responsáveis pela disseminação, assim como o fenômeno de migração;
  • Espera-se que o CHIKV continuará a emergir periodicamente e indefinidamente a partir de progenitores provenientes do continente africano para novas epidemias em ciclos urbanos.

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Autor

M.D., PhD. ⦁ Médico ⦁ Microbiólogo ⦁ Professor Associado / Lab. Micobactérias, Depto. Microbiologia Médica, Instituto de Microbiologia Paulo de Góes, Centro de Ciências da Saúde – Universidade Federal do Rio de Janeiro

Referências bibliográficas:
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