Exames de imagem para diagnóstico e manejo das artropatias induzidas por cristais

As artropatias induzidas por cristais são doenças articulares muito frequentes na população geral e contemplam a gota, a doença por depósito de pirofosfato de cálcio (CPPD) e a doença por Depósito de Fosfato Básico de Cálcio (DFBC). Cada uma dessas doenças possui fenótipos específicos, e a necessidade do uso de exames de imagem é frequente, inclusive permitindo a diferenciação entre elas.

Nesse sentido, a European Alliance of Associations for Rheumatology (EULAR) publicou recentemente recomendações baseadas em evidência sobre o uso dos exames de imagem na prática clínica para o diagnóstico e manejo das artropatias induzidas por cristais.

Exames de imagem para diagnóstico de artropatias

Métodos

A produção das recomendações foi aprovada pelo Conselho da EULAR e coordenada por dois reumatologistas e dois metodologistas. Foram convidados 25 reumatologistas especialistas em artropatias por cristais, radiologistas musculoesqueléticos, metodologistas, profissionais de saúde dois representantes da EMEUNET e dois pacientes, representando 11 países. Após reuniões, foram elencadas 14 perguntas de pesquisa e foi conduzida uma revisão sistemática da literatura para cada uma delas.

A partir da revisão, foram definidos 5 princípios gerais e produzidas 10 recomendações sobre o uso da imagem nas artropatias induzidas por cristais.

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Princípios gerais

As artropatias por cristais são doenças tipicamente caracterizadas por episódios agudos de inflamação, mas também podem apresentar sintomas crônicos da doença (com surtos de inflamação associados ou não).

O uso dos exames de imagem na avaliação desses pacientes fornece informações relevantes a respeito do depósito dos cristais, inflamação e dano estrutural associado.

As alterações na imagem causadas pela presença de depósitos de cristais podem não representar consequências clínicas para o paciente.

A análise das imagens obtidas de pacientes com artropatias induzidas por cristais deve ser realizada por pessoal com experiência no tema.

Recomendações

  • Na avaliação por imagem de pacientes portadores ou com suspeita de artropatias induzidas por cristais, deve ser considerada a aquisição de imagens das regiões sintomáticas, bem como de sítios de acometimento característico por cada doença (por exemplo, primeira metacarpofalangiana na gota e joelhos e punhos na CPPD).
  • Na suspeita de gota, a ultrassonografia e a tomografia com dupla energia (DECT) são os exames de escolha para o diagnóstico da doença.
  • A realização da artrocentese com sinovianálise (considerada o padrão-ouro para o diagnóstico das artropatias induzidas por cristais) pode ser dispensada nos casos de suspeita de gota nos quais existam alterações típicas nos exames de imagem (por exemplo, duplo contorno e tofos na US ou depósitos sugestivos de urato monossódico na DECT).
  • A radiografia convencional e a US são os exames de escolha para avaliação dos pacientes com suspeita de CPPD. Nos casos em que exista a hipótese de acometimento axial (por exemplo, a síndrome do dente coroado), a TC da região afetadas por ser informativa.
  • A realização de imagem para o diagnóstico de DFBC é fundamental, e a radiografia ou a US podem ser utilizadas para esse propósito.
  • Na gota, a monitorização dos depósitos de urato monossódico pode ser realizada através da DECT ou do US. O US apresenta como vantagem adicional a possibilidade de avaliação da inflamação. As informações fornecidas por esses métodos podem ser úteis para complementar a avaliação clínica e laboratorial. Na indisponibilidade dos 2 métodos, a radiografia convencional pode ser utilizada para avaliar dano estrutural às articulações.
  • Na CPPD e na DFBC, a repetição seriada de exames de imagem não é recomendada, a menos que haja uma mudança inesperada no quadro clínico.
  • Na gota, a avaliação dos depósitos de urato monossódico através do DECT ou do US podem auxiliar na predição do risco de ocorrência de surtos inflamatórios pela doença.
  • O US pode ser utilizado para guiar procedimentos de artrocentese e infiltração, especialmente nos casos com dificuldades anatômicas para sua realização.
  • A utilização dos exames de imagem como ferramenta de educação dos pacientes com artropatias induzidas por cristais podem auxiliar na maior adesão ao tratamento.

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Autor

Editor-chefe de Clínica Médica da PEBMED/Whitebook • Professor de Reumatologia da Universidade Federal de Juiz de Fora • Chefe do serviço de Clínica Médica do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora • Membro da Comissão de Síndrome Antifosfolípide e da Comissão de Vasculites da Sociedade Brasileira de Reumatologia

Referências bibliográficas:
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  • Mandl P, D’Agostino MA, Navarro-Compán V, et al. 2023 EULAR recommendations on imaging in diagnosis and management of crystal-induced arthropathies in clinical practice. Ann Rheum Dis 2024;0:1–8. DOI: 10.1136/ard-2023-224771.


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