Impacto do controle de peso e atividade física nas formas de osteoartrite

A osteoartrite (OA) é a forma mais frequente de artrite e acomete cerca de 1 a cada 8 pessoas ao longo da vida. A disfunção articular provocada pode ser grave, podendo levar ao importante comprometimento da funcionalidade e, consequentemente, à piora significativa da qualidade de vida. 

Apesar da sua grande prevalência e impacto socioeconômico, não existem tratamentos farmacológicos que permitam a cura ou redução consistente na progressão da doença. Atualmente, os tratamentos são restritos ao controle sintomático da doença, como o uso de AINEs. Sendo assim, medidas não farmacológicas como a educação, automanejo, autoeficácia, atividade física e controle do peso assumem papel ainda mais relevante nesse contexto. 

Recentemente, Huffman et al. publicaram uma revisão narrativa sobre o impacto do controle do peso e da atividade física em diferentes formas de osteoartrite.  

Veja também: Tromboembolismo venoso após artroplastia total de joelho e de quadril

osteoartrite

Existe um grande corpo de evidência com relação aos benefícios da realização da atividade física no tratamento da OA. O maior número de publicações se concentra na OA de joelhos, seguida da OA de quadril; as demais articulações foram menos estudadas. Além dos benefícios físicos obtidos, a atividade física pode ajudar no controle de comorbidades que surgem com o envelhecimento, levando a uma melhora geral da saúde. 

O tipo de atividade física deve ser individualizado conforme as preferências do paciente, de modo a garantir maior adesão.  

1) Tipos de atividade física benéficas para a OA de joelho ou quadril

  • Exercícios aeróbicos: atividades com baixo impacto, como caminhadas, ciclismo e natação, melhoram a capacidade cardiorrespiratória, auxiliam no ganho de força muscular e podem melhorar dor, função e qualidade de vida nesses pacientes; 
  • Exercícios de fortalecimento: exercícios de força utilizando o peso do corpo, bandas elásticas ou pesos/halteres podem reduzir a dor e melhorar a funcionalidade e a saúde mental dos pacientes com OA de joelho ou quadril; 
  • Yoga: pode melhorar dor, rigidez e função nos pacientes com osteoartrite de joelho, uma vez que combina exercícios de força e possui características que reduzem o estresse; 
  • Tai chi: estudos demonstram que pode melhorar dor, função, equilíbrio, flexibilidade, capacidade aeróbica, humor e autoeficácia; 
  • Exercícios de performance: esse tipo de exercício inclui diversas modalidades, como treinamento proprioceptivo, sensoriomotor, equilíbrio e exercícios neuromusculares. Auxiliam na melhora da força, função, equilíbrio e controle corporal; 
  • Exercícios de flexibilidade e alongamento: exercícios de alongamento função física, enquanto exercícios de flexibilidade melhoram função física, dor, arco de movimento e rigidez; 
  • Atividades diárias: mesmo as atividades diárias leves previnem limitações funcionais. As atividades leves são caminhar dentro de casa ou tirar poeira e lavar pratos. Já as atividades moderadas são trocar roupas de cama, carregar compras e lavar roupas.

2) Doses de atividade física recomendadas

Muitas recomendações incorporam as recomendações da OMS, com alguns comentários adicionais: 

  • 150 minutos por semana de moderada atividade (i.e., 3,0-5,9 METs, o que equivale a caminhada vigorosa) + 2 dias/semana de exercício de fortalecimento → no entanto, doses tão baixas como 45 minutos/semana de moderada atividade já podem ser benéficas; 
  • Caminhadas ≤ 10.000 passos/dia não parecem piorar a progressão da OA de joelho – recomendado de 60.000-10.000 passos/dia; 
  • Preferir atividades de baixo impacto, que não provoquem dor – atividades sugeridas: natação, caminhada, tai chi e exercícios de fortalecimento; 
  • A dose da atividade física deve ser ajustada conforme a habilidade do paciente e seu nível de dor.

3) Barreiras para realização de atividade física 

Os pacientes com OA podem apresentar cinesiofobia e medo de piora dos sintomas. Esses pensamentos limitantes devem ser trabalhados com medidas de educação, automanejo e autoeficácia, para que os pacientes possam se engajar em atividades físicas.  

4) Controle de peso na OA de joelho e quadril 

  • Cada redução de cerca de 0,5 kg no peso corporal reduz cerca de 2 kg de carga nas articulações do joelho e do quadril → essa informação pode ser útil na orientação/educação do paciente; 
  • Para pacientes obesos e com sobrepeso, a perda ponderal melhora dor, função física, mobilidade, qualidade de vida e comorbidades; 
  • As estratégias para perda ponderal devem ser acompanhadas por especialistas e podem envolver uso de medicações e cirurgias bariátricas. Mudanças comportamentais, como dieta e atividades físicas, devem ser sempre estimuladas; 
  • O alvo de perda ponderal é ≥ 5% do peso corporal. No entanto, mesmo perdas pequenas podem ser úteis para melhora de desfechos.

Leia mais: A artroplastia patelofemoral deve ser indicada isoladamente em artroses?

Comentário 

Esta revisão traz informações bastante práticas para o dia a dia de atendimento de pacientes com OA de joelho e quadril. Por se tratar de uma doença extremamente frequente, é fundamental que tanto reumatologistas quanto médicos generalistas sejam capazes de orientar de maneira eficaz as mudanças comportamentais nesses pacientes, visando melhores desfechos no longo prazo. Abordagens interdisciplinares são importantes para se atingir desfechos ótimos. 

Pacientes com osteoartrite podem apresentar cinesiofobia e medo de piora dos sintomas, pensamentos que devem ser trabalhados com medidas de educação, automanejo e autoeficácia.

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Autor

Editor-chefe de Clínica Médica da PEBMED/Whitebook • Professor de Reumatologia da Universidade Federal de Juiz de Fora • Chefe do serviço de Clínica Médica do Hospital Universitário da Universidade Federal de Juiz de Fora • Membro da Comissão de Síndrome Antifosfolípide e da Comissão de Vasculites da Sociedade Brasileira de Reumatologia

Referências bibliográficas:
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  • Huffman KF, Ambrose KR, Nelson AE, et al. The critical role of physical activity and weight management in knee and hip osteoarthritis: A narrative review. J Rheumatol. 2023; DOI:10.3899/jrheum.2023-0819.


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