AAP 2023: Como o médico pode sobreviver aos ataques em mídias sociais?

O uso de mídias sociais como plataformas profissionais e divulgação de informações científicas relacionadas à saúde é cada vez mais comum. Essa exposição do profissional da saúde pode levar a situações desconfortáveis, com ataques e situações de assédio do profissional por usuários dessas redes, principalmente quando a informação se relaciona a assuntos polêmicos ou que conflita com crenças de determinados grupos. 

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O segundo dia de congresso da AAP trouxe a palestra da Dra. Nicole Baldwin, uma pediatra americana que possui um alto engajamento em redes sociais. Em janeiro de 2020, a Dra. Nicole publicou no TikTok um vídeo em que divulgava as doenças preveníveis por vacinação e enfatizava que vacinas não causam autismo. A partir do momento que seu vídeo se tornou viral, a médica passou a enfrentar inúmeros ataques virtuais, alguns claramente criminosos, principalmente por parte de grupos antivacina de vários países, com impactos inclusive na sua prática clínica diária. Na sua fala, ela abordou os diferentes tipos de assédio virtual e como implementar estratégias de proteção e defesa contra os ataques virtuais.  

O que é o assédio virtual? 

O assédio virtual é uma situação que há o uso de tecnologias da informação e comunicação por um indivíduo ou grupo de indivíduos para repetidamente causar danos a outra pessoa. Em um estudo de 2020, 41% dos participantes relataram que já experimentaram pessoalmente alguma situação de assédio virtual, e imagina-se que essa porcentagem seja maior atualmente. Em outra pesquisa de junho de 2023, 66% dos médicos e cientistas biomédicos participantes relataram ter sofrido assédio em mídias sociais, sendo 88% devido à sua prática profissional, 45 % baseado no gênero, 27 % baseado na sua raça / etnia e 13% baseado na orientação sexual. 

Existem vários tipos de assédio virtual. O mais comum deles é o que ocorre com comentários em mídias sociais, porém outras maneiras de assédio incluem compartilhamento ou marcação do perfil assediado para que outras pessoas possam atacar conjuntamente, criação de perfis falsos, produção e publicação de textos e revisões falsas, cartas ou telefonemas para o consultório ou para o empregador, compartilhamento de informações pessoais, e assédio ocorrendo pessoalmente.  

E quais os temas mais associados com ataques virtuais? 

Quando falamos em ataques virtuais, alguns temas são mais propícios para que ocorra um assédio virtual. A dra. Nicole listou como temas principais os temas de vacinação, segurança de arma de fogo, assuntos relacionados a gênero, escolhas reprodutivas, segurança do sono e cama compartilhada, amamentação/uso de fórmulas artificiais e covid/uso de máscaras. Ou seja, temas que são muito comuns no contexto da pediatria. 

Como se preparar para evitar ataques virtuais antes de postar conteúdos em mídias sociais? 

Inicialmente, é importante enfatizar que segurança nunca é demais. Certifique-se que você possui autenticação em duas etapas e senhas fortes em suas redes. Separe seu perfil pessoal de seu perfil profissional, se possível, diversifique o nome para evitar que pessoas possam encontrar informações sensíveis e confidenciais, como nome e foto de seus filhos ou parentes. Considere não compartilhar fotos de seus filhos e os locais em que eles estudam ou frequentam.  

Com relação a cada uma das plataformas de mídias sociais, também existem algumas maneiras de se proteger. No Instagram, você pode ir até o local de Configurações e privacidade. Ali está uma parte de “Palavras ocultas”, em que você pode esconder comentários ofensivos nos seus comentários, bloquear mensagens ofensivas e mesmo escolher uma lista customizada de palavras que você não deseja ver nos comentários ou mensagens.  

No perfil profissional do Facebook, existe um local de “Assistente de moderação”, em que você pode criar uma lista de critérios que farão com que algum comentário seja automaticamente escondido, por exemplo, comentários de pessoas sem fotos de perfil, ou perfil sem amigos ou seguidores. Você também pode selecionar palavras chaves ou emojis nos comentários que farão com que o comentário seja automaticamente escondido. Você ainda verá o comentário, mas outras pessoas não verão.  

No X (antigo Twitter), você pode ir até o local de privacidade, clicar na parte de comentários, e poderá filtrar palavras chaves que você não deseja que apareçam em seu perfil. No Youtube, também é possível adicionar lista de palavras ou frases que você não deseja que apareçam nos comentários de seus vídeos.  

Sofri um ataque na mídia social. E agora? 

A dra. Nicole também trouxe algumas dicas sobre como reagir a um ataque nas mídias sociais. Evite discutir com pessoas nas redes sociais. Você provavelmente não mudará a ideia dessa pessoa e vai gastar energia e tempo com isso. Mantenha a calma, mas procure ajuda se necessário. Alerte seus empregadores, caso esteja preocupado que o ataque traga prejuízos para seu trabalho. Avalie desligar os comentários, se for preciso. Faça prints dos comentários, uma vez que muitas vezes esses comentários desaparecem após ocorrer bloqueio deles, e você pode precisar para procurar ajuda legal ou policial. Faça pausas quando for necessário. Não fique acordado a noite toda vendo ou respondendo esses comentários. Isso prejudicará sua saúde mental.  

Você também pode regular, dentro de cada rede social, o número e qualidade de interações dentro dessa rede, além de permitir comentários de grupos de pessoas, como por exemplo, apenas de seus seguidores. Também é possível bloquear ou limitar a determinados grupos as marcações e menções ao seu perfil, pois isso diminui o número de compartilhamentos de pessoas que estão assediando. Caso as coisas estejam muito difíceis ou excessivas, lembre-se que você sempre pode tornar sua conta privada ou desativá-la momentaneamente.     

 Mensagens para guardar 

  • Redes sociais são uma importante ferramenta de trabalho e divulgação de informações para pediatras.  
  • Conteúdos que estão relacionados intimamente com a pediatria, como vacinas e amamentação, podem aumentar o risco de ataques virtuais. 
  • Assédio virtual é uma situação comum, dessa forma, aprender formas de prevenção e manejo desses ataques é fundamental.

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Autor

Editora-chefe de Pediatria ⦁ Médica formada pela UNIRIO ⦁ Residência médica em pediatria pelo HUPE/UERJ ⦁ Médica concursada do Ministério da Educação (Colégio Pedro II e CEFET-RJ) ⦁ Tem experiência nas áreas de Terapia Intensiva Pediátrica, Pediatria Geral e Medicina de Urgência.

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