Transtorno do espectro autista em adultos

Nos últimos anos, observamos um aumento de consciência da população sobre o diagnóstico de transtorno do espectro autista (TEA). Esse movimento tem levado adultos a suspeitarem que, alguns sintomas que apresentam e comprometem seu funcionamento cotidiano, possam dizer respeito a um TEA não diagnosticado. 

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Os critérios diagnósticos para adultos e crianças são os mesmos. Um dos principais desafios no adulto é resgatar a história de sintomas na primeira infância. Usualmente, pessoas que recebem diagnóstico na vida adulta não possuíam sintomatologia e prejuízos tão evidentes na infância, normalmente cursando com linguagem e cognição preservadas. Esses pacientes podem ter sintomas leves na infância, que não comprometeram seu funcionamento, até que as demandas da vida adulta excedam suas capacidades.   

Em pacientes sem comprometimento na aquisição de linguagem, pode-se perceber uma inabilidade no contato social (dificuldade em se aproximar e iniciar uma conversa, pouco interesse em saber sobre a outra pessoa, dificuldade em manter conversas sobre temas que fujam do círculo restrito de interesses que possui) e uso de linguagem excessivamente formal, com poucas gírias, sem adequada compreensão de ironias ou capacidade de abstração incompatível com as habilidades cognitivas.  

Além disso, pessoas com TEA podem ter dificuldades em perceber as necessidades afetivas dos outros se não são explicitadas. Nos adultos, os sintomas de inflexibilidade podem ser confundidos com sintomas obsessivos.  

Questões relacionadas à sexualidade costumam ser desprezadas na população com TEA. Adultos com transtorno do espectro autista correm maior risco de vitimização sexual e têm menos conhecimento sobre saúde sexual e reprodutiva. Além disso, essa população se identifica mais como transsexual, queer ou outras identidades de gênero, o que pode ser mais uma fonte de sofrimento dado o preconceito que populações minoritárias são expostas.  

O curso do autismo na vida adulta ainda é pouco conhecido, mas parte dos pacientes podem apresentar uma melhora nas habilidades de comunicação. Quoeficiente intelectual (QI) é um possível fator prognóstico, com aqueles com QI<70 tendo piores resultados. 

Os diagnósticos diferenciais mais comuns em adultos são: transtorno de personalidade esquizoide, esquizotípico, evitativo e transtorno de déficit de atenção e hiperatividade (TDAH tanto é um diagnóstico diferencial quanto uma comorbidade psiquiátrica frequente). Transtorno de personalidade obsessivo-compulsivo e transtorno obsessivo-compulsivo também são diagnósticos diferenciais importantes. 

Comorbidades psiquiátricas ocorrem na maior parte das pessoas com transtorno do espectro autista sem deficiência intelectual, sendo que no adulto os transtornos de humor são os mais frequentes. O risco de ansiedade também é aumentado nessa população, bem como a prevalência de TDAH 

O tratamento nos adultos deve ser individualizado, em face das dificuldades que enfrentam, focando em maior autonomia e independência. As terapias que apresentam os melhores resultados para indivíduos adultos com TEA são: terapia cognitivo-comportamental, treino de habilidades sociais e de cognição social.  

Devemos estar atentos, ainda, para a camuflagem nos adultos com TEA – estratégias usadas em situações sociais para esconder os comportamentos associados ao diagnóstico e às dificuldades, parecendo ser socialmente mais hábeis. A camuflagem é mais comum em mulheres e está mais associada à depressão, uma vez que demanda muito esforço dos pacientes para serem implementadas. 

Veja ainda: O que o médico deve saber sobre o Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI)?

Não há tratamentos medicamentosos que mudem os sintomas nucleares do TEA. Irritabilidade e agressividade podem ser manejadas com risperidona, aripiprazol, haloperidol e clozapina. Pacientes com TEA podem ser particularmente sensíveis aos efeitos colaterais das medicações, sendo desejável iniciar doses menores e fazer titulação mais lenta.  

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Autor

Médica pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Residência em Psiquiatria pela Universidade de São Paulo (USP). Mestranda em Psicologia Social pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IP-USP). Psiquiatra Assistente do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (HU-USP).

Referências bibliográficas:
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  • Miguel, Euripedes Constantino et al. Clínica Psiquiátrica: as grandes síndromes psiquiátricas. 2.ed. Barueri, SP: Manole, 2021. v.2. 

  • Swetlik C, Earp SE, Franco KN. Adults with autism spectrum disorder: Updated considerations for healthcare providers.
  • Cleve Clin J Med. 2019 Aug;86(8):543-553.  

     

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