O Transtorno Dissociativo de Identidade (TDI) foi incluído no Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais – DSM, em 1980, como transtorno de personalidade múltipla, e desde então é motivo de controvérsia no mundo psiquiátrico. A prevalência é estimada em 1-1,5% em estudos comunitários, sendo majoritária em mulheres.
O TDI é um dos transtornos dissociativos, que são caracterizados por “perturbação e/ou descontinuidade da integração normal da consciência, memória, identidade, emoção, percepção, representação corporal, controle motor e de comportamento” pela definição do DSM-5-TR.
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A condição está ligada a exposições a graves traumas durante a infância, particularmente abuso físico, sexual e emocional. Inúmeras questões contribuem para que o TDI seja um transtorno pouco estudado: variações culturais da natureza do que é a identidade; as formas defensivas que usamos para lidar com eventos graves e difíceis, que variam da negação a minimização da sua gravidade; e, por fim, o fato de que a discussão do TDI coloca em xeque as instituições sociais que deveriam zelar pelo direito das crianças a uma infância digna.
Os critérios diagnósticos do transtorno envolvem a ruptura da identidade, que pode ser tanto com a presença de duas ou mais personalidades quanto como possessão. A ruptura de identidade envolve uma alteração do senso de si e do domínio das próprias ações, bem como alterações no afeto, comportamento, consciência, memória, percepção, cognição e funcionamento sensório-motor e amnésias dissociativas. Os sintomas não precisam necessariamente ser perceptíveis por terceiros.
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Os pacientes que não apresentam possessão normalmente apresentam uma descontinuidade sutil da identidade e somente uma minoria se apresenta ao atendimento clínico com alternância observável de identidades. Despersonalização e desrealização também são comuns, a despeito de não figurarem no critério diagnóstico.
Segundo o DSM-5-TR, “a elaboração de estados dissociativos de personalidade com diferentes nomes, penteados, caligrafias, sotaques, guarda-roupas e assim por diante, ocorre em apenas uma minoria de indivíduos com o transtorno dissociativo de identidade do tipo “não possessão”. Assim, a despeito do estereótipo quando se trata de TDI, apresentações dramáticas caracterizam somente um subgrupo de pacientes.
É importante, ainda, lembrar que estados de possessão que fazem parte de práticas culturais ou religiosas não devem ser alvos do diagnóstico de TDI.
O relato de alucinações de todos os tipos (auditivas, visuais, táteis, olfativas e gustativas) é comum em pessoas com TDI. Os relatos de alucinações auditivas podem refletir fenômenos auto hipnóticos, uma comunicação entre dois estados dissociados, em vez de um processo psicótico.
Pacientes com TDI recebem, em média, quatro outros diagnósticos antes do diagnóstico correto e passam, em média, sete anos recebendo cuidados em saúde mental sem o diagnóstico adequado.
São fatores que contribuem para a dificuldade diagnóstica:
- raramente os pacientes apresentam mudanças abruptas de personalidade;
- nem sempre os pacientes verbalizam com clareza fenômenos dissociativos;
- e muitos profissionais não receberam treinamento adequado para a avaliação de transtornos dissociativos.
Há uma alta prevalência de comorbidades psiquiátricas nas pessoas com TDI, sendo as comorbidades mais importantes: Transtorno Depressivo, TEPT, Transtorno por Uso de Substância, Transtorno de Sintomas Somáticos, Síndrome Neurológica Funcional e Transtorno de Personalidade.
Terapias direcionadas ao trauma mostram-se benéficas aos pacientes. Outras intervenções são recomendadas em todo o curso do tratamento como psicoeducação, como estimular o reconhecimento e tolerância às emoções, desenvolver o controle do impulso e treinar habilidades para evitar a dissociação.
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Autor
Médica pela Universidade Federal da Bahia (UFBA). Residência em Psiquiatria pela Universidade de São Paulo (USP). Mestranda em Psicologia Social pelo Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (IP-USP). Psiquiatra Assistente do Hospital Universitário da Universidade de São Paulo (HU-USP).
- Reinders AATS, Veltman DJ. Dissociative identity disorder: out of the shadows at last? Br J Psychiatry. 2021 Aug;219(2):413-414.
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