O reconhecimento do Torneio Paralelo de 1986 como Série B do Campeonato Brasileiro voltou à pauta do Treze. O presidente do Galo, Artur Bolinha, espera resolver “de uma vez por todas a situação” para que o time paraibano possa se intitular, de fato e direito, campeão nacional. Nesta semana, a CBF reconheceu o Atlético-MG como campeão brasileiro de 1937 por ter considerado o Torneio dos Campeões daquele ano análogo ao Brasileirão.
Artur Bolinha pede que o título brasileiro da Série B de 1986 seja dividido entre quatro times: Treze, Central, Criciúma e Inter de Limeira. Cada qual venceu um grupo do Torneio Paralelo de 1986 e, por via de consequência, garantiram o “acesso” no mesmo ano para a primeira divisão do Brasileirão. A CBF trata a disputa como “parte integrante” do campeonato, por isso até aqui não houve o reconhecimento como segunda divisão.
– Queremos rediscutir o Torneio Paralelo. Para isso, quero juntar Treze, Central, Inter de Limeira e Criciúma para fazer um pleito conjunto, ao lado das respectivas federações. Seria premiar essas equipes, sem nenhum prejuízo para o futebol de hoje. Não daria pontos extras no ranking, já que a CBF só leva em consideração os últimos cinco anos. Seria apenas para uma reparação histórica – explica Arthur Bolinha.
Treze pede reconhecimento do Torneio Paralelo como Série B de 1986 — Foto: Reprodução/Treze FC
Na exposição de motivos do Treze, enviada à Federação Paraibana de Futebol (FPF-PB) para que encaminhasse à CBF, o clube paraibano lembra que regulamentos similares em que houve a homologação do título da Série B – mesmo com o acesso no mesmo ano. São os casos do Juventus-SP (que disputou a Taça de Ouro em 1983 e no mesmo ano ganhou a Taça de Prata) e do Uberlândia (campeão da Copa CBF de 1984, reconhecida como Série B, e que subiu no mesmo ano para disputar a primeira divisão).
Mais recentemente, o Paraná Clube conquistou o Módulo Amarelo da Copa João Havelange de 2000, e subiu no mesmo ano. O São Caetano, vice-campeão, chegou a também decidir o título da primeira divisão.
“Em relação ao pleito do Treze, tudo é mais simples e mais claro: a Taça de Prata, o Campeonato Brasileiro da Série B e o Torneio Paralelo compartilham rigorosamente a mesma finalidade, a mesma até hoje: qualificar clubes para a elite do futebol nacional. Não é justo que apenas os vencedores de 1986 seja negada a honra, apenas porque a entidade organizadora da competição deixou de estabelecer critérios de desempate e de declaração de Campeão, como fez tanto antes como depois de 1986”, diz trecho da exposição de motivos apresentada pelo Treze.
Cita ainda o caso da Copa Intertoto, promovida pela Uefa de 1995 a 2009, como regulamento similar ao Torneio Paralelo – a fase final era disputada com os times divididos em quatro grupos, e os vencedores eram declarados campeões.
“Até 2008 foi usada como competição qualificadora para o que hoje conhecemos como Europa League, e teve como co-vencedores grande clubes europeus que venciam seus grupos na competição. Assim, dividiram títulos porque venceram seus grupos”, segue a exposição, citando Sporting, Lille Ajax, Hertha Berlim, Hamburgo e Werder Bremen. “Todos ostentam e valorizam orgulhosamente a conquista, de direito, em seus registros históricos”, completa.
Torneio Paralelo de 1986
A própria criação do Torneio Paralelo pela CBF foi polêmica. Inicialmente, a competição teria a participação de 24 times – 22 deles vindos dos campeonatos estaduais, e mais Goytacaz (vice-campeão da Taça de Prata de 1985) e o Pelotas (pelo ranking do Brasileirão do ano anterior).
A confusão começou depois que a Federação do Estado do Rio de Janeiro (Ferj) indicou o Americano na vaga que seria do Campo Grande. Após muitos protestos, a CBF decidiu conciliar todos os interesses (algo comum na época) e decidiu convidar mais 12 clubes.
Treze x Moto Club, Torneio Paralelo de 1986 — Foto: Reprodução Diário da Borborema/Retalhos Históricos de Campina
A competição, então, teve 36 times divididos em quatro grupos de nove times cada.
- Grupo E
América-RN
Ferroviário
Guarany-CE
Maranhão
Moto Club
Rio Negro
River-PI
Sport Belém
Treze
- Grupo F
Americano
Catuense
Central
Confiança
CRB
Desportiva
Fluminense-BA
Goytacaz
Taguatinga
- Grupo G
América-MG
Anápolis
Inter de Limeira
Itumbiara
Juventus
Mixto
Santo André
Uberlândia
Ubiratan
- Grupo H
Avaí
Brasil de Pelotas
Cascavel
Criciúma
Juventude
Londrina
Marcílio Dias
Novo Hamburgo
Pinheiros
Os times jogaram entre si, dentro do próprio grupo, em turno único. Apenas o campeão de cada chave avançava para a segunda fase do Brasileirão, considerado o acesso no mesmo ano – como já acontecera nos anos anteriores. Treze, Central, Inter de Limeira e Criciúma foram os vencedores.
Treze x Ferroviário, Torneio Paralelo de 1986 — Foto: Reprodução Diário da Borborema/Retalhos Históricos de Campina
O que já disse a CBF
Em 2016, o ge fez uma matéria lembrando os 30 anos do Torneio Paralelo. Na oportunidade, a CBF respondeu à reportagem através de nota, explicando porque nunca reconheceu os quatro clubes campeões brasileiros da Série B de 1986.
“A fórmula adotada naquele ano não previa a definição de um ou mais campeões no ápice da competição. Em 1986, os times em questão terminaram a Série B do Campeonato Brasileiro como líderes de seus respectivos grupos e conseguiram a classificação para a 2ª fase da Série A do mesmo ano. O correto seria mencionar o mérito de 1986 como ‘Classificação à Série A’”, explicou a CBF, na época.
Artur Bolinha, presidente do Treze: questão de justiça o reconhecimento do Torneio Paralelo como Série B do Brasileirão — Foto: Cassiano Cavalcanti / Treze FC
É justamente mudar esse entendimento que o Treze quer novamente. Para isso, lembra que a própria CBF já reconheceu outras competições, como a Taça Brasil e o Torneio Roberto Gomes Pedrosa.
– Não acho que traria prejuízo para a história. Seria um reconhecimento a quatro times que realmente fizeram uma grande campanha. O Torneio Paralelo era a Série B daquela época. Não havia outro campeonato de acesso. Por que Uberlândia e Paraná foram reconhecidos campeões disputando campeonatos com regulamentos similares? – pergunta Arthur Bolinha.
Muros pintados
Pelo menos para Treze e Central, o título brasileiro da Série B de 1986 é algo concreto. Ou melhor, pintado no concreto. Os dois clubes escreveram em seus estádios a glória esquecida pela CBF. Diferente de Criciúma e Inter de Limeira, que possuem outros títulos nacionais, a Segundona seria a conquista mais importante da história de paraibanos e pernambucanos.
Presidente Vargas, em Campina Grande
Estádio Presidente Vargas, Treze — Foto: Silas Batista / GloboEsporte.com
Estádio Lacerdão, em Caruaru
Fachada Estádio Lacerdão Central Campeão Série B 1986 — Foto: Antônio Valdevino / TV Asa Branca
E os quatro campeões?
O ge foi buscar na história os times-base de Treze, Central, Inter de Limeira e Criciúma no Torneio Paralelo de 1986. São esses jogadores que podem entrar para a história com o título nacional em caso de reconhecimento por parte da CBF:
Treze: Jorge Hipólito, Levi, Dão, Café e Marco Antonio; Henrique, Fernando Baiano e Rinaldo; Gabriel, Bill e Mirandinha; Técnico: Waldemar Carabina
Treze, Torneio Paralelo de 1986 — Foto: Reprodução/Retalhos Históricos de Campina
Central:
Time do Central Campeão Brasileiro da Série B 1986 — Foto: Assessoria Central
Inter de Limeira: Silas; João Luís, Ailton Luís, Bolívar e Pecos; Gilberto Costa, Manguinha e João Batista; Tato, Bugrão e Lê (Gilson Gênio); Técnico: Lori Sandri
Inter de Limeira, campeã paulista de 1986 — Foto: Divulgação Federação Paulista de Futebol
Criciúma: Luís Henrique, Chiquinho (Milton Mendes), Sílvio Laguna, Solis e Sarandi; Jairo, Carlos Alberto e Rached; Vanderlei (Guinga), Edemílson e Jorge Veras; Técnico: Zé Carlos
Criciúma, time de 1986 — Foto: Reprodução/internet