O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma disfunção neurobiológica com redução dos neurotransmissores dopamina e norepinefrina na fenda sináptica principalmente na região do córtex pré-frontal 2, gerando impacto na atenção, impulsividade, agitação psicomotora, além de afetar habilidades cognitivas, como resolução de problemas, planejamento, atenção prolongada, flexibilidade, inibição de resposta e memória de trabalho. O tratamento multimodal é fundamental para melhorar o prognóstico do paciente com TDAH1,3.
A prevalência mundial estimada é de 3% a 8%2 em crianças e adolescentes, e sua persistência na idade adulta tem uma prevalência estimada entre 2,5% e 3%5. No Brasil, a prevalência do TDAH é semelhante à relatada em todo o mundo8.
Devido à complexidade dessa condição, é recomendada uma abordagem multimodal, que inclui intervenções não medicamentosas, como terapia cognitivas e comportamentais, psicopedagoga e adaptações na escola e no ambiente familiar para auxiliar o paciente 3,5.
Na abordagem medicamentosa, as medicações psicoestimulantes, como o metilfenidato, são utilizadas como tratamento de primeira linha para o TDAH4. Esse medicamento é derivado da anfetamina, atua inibindo os transportadores de norepinefrina e dopamina na fenda sináptica (DAT e NAT), impedindo sua recaptura e aumentando sua disponibilidade no espaço sináptico. Isso resulta na melhoria dos sintomas de desatenção, impulsividade e na otimização das funções executivas e do controle inibitório 4,7.
Na sua farmacocinética, o metilfenidato é administrado via oral e rapidamente absorvido, as concentrações plasmáticas máximas são atingidas aproximadamente duas horas após a administração. Ele é biotransformado pela carboxilesterase CES1A1 no fígado, e 78 a 97% da dose administrada é excretada pela urina 4.
Atualmente existem diferentes apresentações do Metilfenidato:
A) Cloridrato de Metilfenidato de liberação imediata9:
- Apresentação: comprimido de 10 mg;
- Pico de ação: 1 a 3 horas após ingestão;
- Meia-vida: 2 a 3horas;
- Duração: 3 a 6 horas;
- Número de tomadas/dia: 2 a 3 tomadas;
- Indicações: titulação de dosagem e pacientes com menor condições financeiras;
- Vantagens: de mais fácil titulação de dose e valor mais em conta;
- Desvantagens: menor adesão ao tratamento devido a quantidade de tomadas, mais flutuação plasmática, podendo apresentar alteração de eficácia do medicamento ao longo do dia. O comprimido não pode ser partido9.
B) Cloridrato de Metilfenidato de ação prolongada sistema SODAS (Spheroidal oral drug Absorption system) :
- Apresentação: cápsula gelatinosa de 10, 20, 30 e 40mg;
- Pico de ação bimodal: com absorção imediata de metade da dose, e a outra metade 4 horas após a ingestão;
- Meia-vida: 4 horas;
- Duração: 8 horas;
- Número de tomadas/dia: 1 a 2 tomadas;
- Indicações: mantém eficácia homogênea ao longo do dia;
- Vantagens: as flutuações entre o pico e a depressão do medicamento são menores do que a de ação imediata. De acordo com a bula, a capsula pode ser aberta e colocada sobre alimento leve e em temperatura ambiente;
- Desvantagens: preço9.
C) Cloridrato de Metilfenidato de ação prolongada sistema de liberação osmótica (OROS):
- Apresentação: comprimido de 18mg, 36mg e 54mg;
- Pico de ação: 6 a 8 horas após a ingestão;
- Meia-vida: 3,5 horas;
- Duração: 12 horas;
- Número de tomadas/dia: 1 tomada;
- Indicação: mantém efeito homogêneo e tem maior duração;
- Vantagens: liberação controlada ao longo do dia, permitindo distribuição homogênea e precisa da dose, minimizando as flutuações entre pico e vale, reduzindo o efeito rebote. Melhor adesão ao tratamento devido a dose única diária;
- Desvantagens: Conforme a bula, o comprimido deve ser engolido inteiro. Outra desvantagem é o preço do medicamento.
A decisão sobre qual apresentação utilizar deve ser individualizada, o efeito do medicamento pode ser dose dependente, por isso, as doses devem ser tituladas conforme a resposta terapêutica 3,4,7.
As formulações de ação prolongada estão associadas a melhor adesão terapêutica e têm menor risco de efeito rebote 7.
Dentre os efeitos colaterais, os principais são: redução de apetite, insônia, irritabilidade, dores abdominais, náuseas, vômitos, tremores, cefaleia. A maioria destes tem redução e pode sumir com a continuidade do tratamento7.
Em conclusão, o tratamento do TDAH com metilfenidato deve ser realizado de forma integrada, considerando diferentes abordagens terapêuticas e a colaboração entre profissionais de saúde, educadores e familiares. A combinação adequada de medicamentos, terapia comportamental, psicoterapia e apoio educacional pode otimizar os resultados e melhorar a qualidade de vida dos pacientes com TDAH2,5, 6.
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Autor
Médica neurologista infantil pela sociedade brasileira de neurologia infantil, acupunturista pela associação médica brasileira de acunputura e neurofisiologista pelo HCFMUSP.
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