Quake II ganha a remasterização que todo game clássico merece

Videogame é uma mídia sem passado. O que veio ontem serve apenas para nostalgia ou remakes, já que tudo que importa são os títulos e tecnologias do futuro. Há pouco esforço por parte das empresas de preservar a história desse meio.

A crise é de níveis alarmantes, segundo um estudo recente que aponta que 87% de todos os jogos lançados antes de 2010 estão em risco de extinção. No meio disso tudo, a Nightdive Studios é uma das poucas desenvolvedoras dedicada a preservar clássicos, e o relançamento de Quake II é um ótimo exemplo do quão importante é o trabalho que fazem.

O clássico da id Software, originalmente lançado em 1997, não era inacessível, exatamente. O jogo de PC seguia disponível no Steam e GOG, com uma cena vibrante de mods de compatibilidade e conteúdo. Ainda assim, a remasterização da Nightdive, feita em parceria com a Bethesda e a MachineGames (Wolfenstein), retoca o shooter noventista e o coloca em um pacote recheado, além de levá-lo aos consoles.

O retorno do game parte de uma iniciativa maior da Bethesda em preservar o legado da id Software. O mesmo esforço rendeu relançamentos de todos os clássicos de Doom, incluindo até Doom 64, que até então havia sido lançado apenas para Nintendo 64. O primeiro Quake também ganhou remasterização em 2021, mas o tratamento que os desenvolvedores deram à continuação vai além.

Remasterização de Quake II eleva a estética do original com texturas em 4K e novos efeitos de luz [Créditos: Divulgação]

O relançamento de Quake II busca preservar ao máximo a experiência original, mas sem abrir mão de alguns retoques para mantê-lo tão impressionante hoje quanto foi em 1997. As texturas são em alta definição, a iluminação é refeita e todas as armas e inimigos foram restaurados respeitando o estilo de arte do clássico.

Há sutis mudanças na jogabilidade, como uma roda seletora de armas (assim como nos Doom mais modernos) e habilidades, e alguns inimigos mais irritantes foram levemente ajustados para garantir um melhor ritmo no tiroteio.

Nenhuma adição, seja visual ou mecânica, mexe drasticamente no que era Quake II. A Nightdive entende que o game precisa funcionar pelos acertos e erros do clássico, sem tentar “melhorar” ou “corrigir” nada mas apenas elevar o que foi feito no game de 1997.

Isso significa que a jogabilidade continua deliciosamente frenética, te colocando para enfrentar hordas de soldados alienígenas com pistolas e escopetas poderosas. A movimentação é rápida, a trilha sonora é pesada e os inimigos te cercam, prontos para serem explodidos em pedaços (que se parecem tão “quadrados” em 2023 que as explosões ficam até adoráveis, em vez de grotescas).

O velho e o novo

Jogabilidade de Quake II continua tão satisfatória como sempre [Créditos: Divulgação]

Como remasterização, o pacote é muito mais robusto que a maioria. A nova versão reúne o jogo original e suas duas expansões, The Reckoning e Ground Zero, lançadas em 1998. Além disso, vem ainda com Quake II 64, versão de Nintendo 64 que, assim como Doom, é completamente diferente do título de PC e era exclusiva do console até agora. Não fosse o bastante, a equipe da MachineGames ainda fez uma expansão totalmente inédita para o relançamento. Chamada de Call of the Machine, ela traz 28 fases novas para um game de quase 26 anos.

Mais surpreendente ainda é que esse esmero pelo clássico não excluiu o amor ao multiplayer. O modo online de Quake é revolucionário, com a franquia sendo responsável pela popularização de disputas via internet e a criação dos eSports. Por toda essa história, a Nightdive não deixou o multiplayer de fora, e incluiu todo o glorioso caos dos confrontos em arena no pacote.

Jogar uma partida de Deathmatch em 2023, disputando pelo domínio do mapa e das armas mais poderosas, é uma experiência fundamental para todo fã de shooter, especialmente quando há crossplay entre todas as plataformas. Para os menos competitivos, a campanha pode ser aproveitada em coop de até dois jogadores.

Por um preço decente e no catálogo do Game Pass, Quake II traz muito conteúdo, multiplayer e até coop [Créditos: Divulgação]

O relançamento busca ser a versão definitiva de Quake II, e consegue pela enorme quantidade de conteúdo agrupado e respeito pela obra original. O melhor de tudo é que a nova versão tem preço modesto, custando menos de R$30 no PC — sendo que os donos do jogo original no Steam e GOG receberam a remasterização de graça, podendo alternar entre as versões com apenas um clique.

Toda remasterização deveria ser assim: uma versão definitiva, completa para os saudosistas matarem as saudades, e cheia de contexto para os novatos entenderem o que garante o status de “clássico” para a obra. Não é surpresa para quem acompanha o trabalho da Nightdive, que deu esse mesmo tratamento obsessivamente carinhoso para títulos como Rise of the Triad (1994), Shadow Man (1999), PowerSlave (1996), Turok (1997) e System Shock (1994), chegando até a refazer esse último do zero. O remake de 2023, porém, não canibalizou o original, já que o estúdio também o relançou em uma versão melhorada.

Com o passado dos videogames em constante risco, e estúdios se aproveitando da falta de disponibilidade de obras antigas para extorquir os jogadores, a Nightdive se posiciona nos games quase como faz a Criterion Collection nos filmes, oferecendo uma viagem no tempo que vai muito além da nostalgia para enaltecer grandes títulos com versões repletas de conteúdo, extras, contexto de sua importância histórica e qualidade.

Quake II está disponível para Xbox One, PlayStation 4, Nintendo Switch, PC, Xbox Series X | S e PlayStation 5. O título está disponível no catálogo do Game Pass nas plataformas da Microsoft.

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