Recentemente um grande hospital de São Paulo realizou o primeiro autotransplante de pulmão em um paciente com câncer metastático. Outros dois casos anteriores foram realizados em pacientes com câncer de pulmão. O paciente possuía um sarcoma sinovial de na perna esquerda com uma metástase única no pulmão direito e não obteve resposta ao tratamento clínico. A cirurgia consistiu na retirada de todo o pulmão direito, com retirada da lesão tumoral em bancada, o que possibilitou uma melhor visualização e manipulação do órgão, e sua posterior realocação na cavidade torácica.
O autotransplante de pulmão consiste em retirá-lo do paciente e reimplantá-lo logo em seguida, após realizados os procedimentos propostos, como a exérese de lesões ou lobos pulmonares. A técnica já é descrita para pacientes com câncer de pulmão, porém pouco utilizada. O avanço das terapias oncológicas tem alcançado resultados cada vez melhores, sendo eficazes no aumento de sobrevida e poupando pacientes de cirurgias em casos avançados. Além disso, o autotransplante parece ser mais bem indicado em pacientes com função pulmonar deteriorada.
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Autotransplante de pulmão: opção de tratamento ao câncer metastático?
Evolução histórica dos transplantes de pulmão
O primeiro transplante de pulmão ocorreu em 1963 e, desde então, se tornou uma opção de tratamento para doenças terminais como fibrose pulmonar e enfisema. Inúmeros pacientes aguardam por um novo órgão doado geralmente de pacientes jovens e vítimas de trauma. Pacientes oncológicos, no geral, não são elegíveis para o transplante, a menos que possuam cerca de cincos anos livre de doença. Entre as complicações do procedimento, as rejeições são relativamente frequentes e são consequências da incompatibilidade doador-receptor que pode ocorrer a curto e a longo prazo. Uma das grandes vantagens do autotransplante é a redução dos episódios de rejeição, visto que o órgão é do próprio paciente.
Complicações pneumológicas
Complicações da cirurgia envolvem sangramento, tromboembolismo das veias pulmonares, deiscência da anastomose brônquica e fístula broncopleural, a principal delas. As rejeições, principais complicações do transplante pulmonar, são incomuns, o que pode favorecer a recuperação precoce do paciente. No caso operado em São Paulo, a alta ocorreu no 12º dia após a cirurgia.
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Considerações e mensagem prática
A decisão pelo autotransplante deve ser discutida em equipe multidisciplinar, envolvendo sobretudo o paciente. Lesões metastáticas que podem ser ressecadas através de cirurgias menores como a lobectomia devem ser avaliadas, uma vez que tendem a ser menos invasivas e arriscadas quando comparadas com a pneumonectomia. Além disso, a cirurgia de retirada do órgão envolve perda de irrigação das artérias brônquicas e de vasos linfáticos, que pode levar à congestão pulmonar mais intensa. No caso do tratamento de tumores, esse tipo de cirurgia fica reservado para casos em que a lesão é irressecável ou o paciente não tolera a cirurgia.
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Autor
Residência em Clínica Médica e Pneumologia pelo HCFMUSP ⦁ Doutorando em Pneumologia pela USP ⦁ Fellow em Doenças Intersticiais Pulmonares
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- Mo Y, Lin L, Li Z, Zhong C, Yan J, Kuang J, Yang G, Zhang J. [Efficacy of Lung Autotransplantation for Central Non-small Cell Lung Cancer]. Zhongguo Fei Ai Za Zhi. 2020 Aug 20;23(8):673-678. Chinese. doi: 10.3779/j.issn.1009-3419.2020.103.12. PMID: 32838489; PMCID: PMC7467987